23 de dezembro de 2008

2AA9

O que desejar à minha família e amigos no ano que está por vir?! Ontem, antes de dormir, estive a lembrar de algumas reflexões que fiz nos últimos meses aqui em Coimbra, no meio de tantas aulas, de tanta saudade, preocupações com prazos e trabalhos, no meio de tantas novidades e novas amizades. E cheguei a uma conclusão: desejo que você, leitor-amigo, sinta-se Agente no ano que está por vir e que, ao agir, respeite suas Atitudes.

“ - Calma lá” – diria um amigo meu português. “Explique melhor essa ideia aí, ô pá!”

É claro que a cultura brasileira difere bastante da portuguesa, principalmente nas formas de tratamento, de se expressar, de abordar as pessoas, de trocar afectos… Mas, achei interessante perceber que alguns traços culturais deles se assemelham aos nossos. Não são apenas os brasileiros que se atrasam. Aqui as aulas costumam começar alguns minutinhos depois, em média 15, e isso tem até nome: quarto de hora académico. “- Professora, nossa reunião vai começar na hora?” Ela esboça um sorrisinho e diz: “- Vai, com o quarto de hora académico”. E não são apenas os brasileiros que furam fila. Nas cantinas (nossos RUs), já cheguei a ver entrar 5 rapazes de uma só vez. Tinha uma senhora atrás deles e eu perguntei a ela " - A senhora viu isso?” e ela me respondeu “- É sempre assim…”. Corrupção?! Universidades que se transformam em fundações?! Centros académicos com baixa representatividade?! Montanhas de papéis jogadas fora todos os dias na xerox da Faculdade?! É, na Universidade com mais de 700 anos, algumas práticas se assemelham ao que vemos naquela idealizada por Darcy há menos de 50 anos. Pois é... mas, mais triste que ver isso acontecer, é ouvir o que alguns portugueses me disseram quando sugeri: " - E se tentássemos diminuir os atrasos, falar com aqueles que furam fila, combater a corrupção, separar mais tempo de dedicação à nossa representação académica e enviar os papéis a centros de reciclagem?": “- Ah, mas por quê eu?! Eu sou apenas mais um…”

Eu almejo às pessoas que amo que, se o possuem, deixem o comportamento passivo de lado. Que não se vejam como mais um. Mas sim como um. Um que vive com vários outros e que pode influenciar outros e mais outros... Desejo que sintam-se agentes. Se pode transparecer muita prepotência pensar em agentes do mundo, que tal agentes da comunidade, do prédio onde moram, da universidade onde estudam? Falta-nos acreditar mais no poder de transformação das pequenas acções do dia-a-dia, falta-nos acreditar que nossa forma de agir encoraja, pelo menos, aqueles que estão ao seu redor, e que, podem até ser poucos, mas são especiais. Sejamos agentes: nem que seja apenas na nossa própria casa.

Outro aprendizado que carreguei muito comigo este ano – e acredito que todos os mestrandos passam por isso – foi saber dar nome aos fenómenos. Um bom psicólogo social, educacional ou do trabalho precisa saber a diferença entre competência e conhecimento. Entre habilidade, capacidade e aptidão. Entre comportamento, atitude, crenças e valores. São diferenças ténues, mas que existem e não podem ser ignoradas, muito menos confundidas com as noções do senso comum. Um conceito que me chamou atenção foi o de atitude. Ser uma pessoa de atitude, como dizemos no dia-a-dia, é uma pessoa que age, como dizíamos a pouco, que sabe o que quer e procura alcançar.

No entanto, para a psicologia, a atitude é um construto que envolve aspectos cognitivos e consequências comportamentais, mas, antes disso, são formadas e guiadas por um componente afectivo, emocional. Consistem em demonstrações de preferências ou aversões para certas actividades, objectos ou pessoas. Quando escolho escutar samba a fado, utilizar o dinheiro que guardo em viagens ao invés de compras, votar em um candidato ou outro, sinalizo minhas atitudes. Para alguns, elas envolvem crenças e valores pessoais, embora estes sejam normalmente mais gerais, enquanto atitudes são mais específicas e orientadas para certas finalidades.

Por fim, meu segundo e último desejo para o ano que está a caminho, é que vocês fechem os olhos e lembrem-se de tudo que os tocam emocionalmente, em tudo que vocês sonham fazer, alcançar, realizar que não conseguiram neste ano que ficou. Aprendi este ano que caso nós não separemos o nosso tempo para o que nos dá prazer, ninguém o vai fazer por nós. São muitos interesses em conflitos, é sempre muito trabalho a ser feito, nós somos cada vez mais responsáveis pelo nosso futuro profissional incerto e volátil, é verdade. Apenas não devemos nos esquecer que também somos responsáveis pela busca do que nos faz bem. Muitas pessoas estarão sempre na torcida, desejando, de muito ou pouco longe, que sejamos felizes... mas decidir, agir e viver com o coração aberto... isso, só cada um de nós pode fazer.

Que 2009 seja mais surpreendente - para melhor - do que esperamos e que seja um ano fruto das nossas acções e carregado de emoções.

21 de novembro de 2008

Você também vai passar por isso.

The entire world is facing an expressive demographic change: the number of young people is decreasing and the number of older people, increasing. As more and more individuals retire and as their healthy longevity increases, there is also more interest on studying the factors that predict quality of life in later retirement (Gall & Evans, 2000). Some research findings indicate that individuals are responsible for their success or failure in retirement and, consequently, responsible for their own planning. Meanwhile, other studies support that organizations should enable individuals to identify and fulfill their expectations for retirement and offer them a retirement planning (Maddox, 2005). Thus, to face this social and economic context, organizations of the XXI century have to develop practices and policies focused on two main actions. Firstly, maintain and improve employees’ health to keep them longer in the work process and best make good use of their potential. Besides that, they should provide an early planning to all workers in order to make the transition to retirement a “process” and not a “rupture”. However, before planning a retirement program, counselors should attend to worker’s expectations of the future that may serve as a point of departure to help the individual to cope with the eventual difficulties of the transition (Nuttman-Shwartz, 2004). Moreover, given the importance that the work takes in contemporary society, the assessment of the perceptions and feelings associated with personal and professional life as well as the possible reasons of retirement (professional stress, external pressures, personal interests, unforeseen circumstances) allows to understand better how the transition to retirement occurs between different people (Floyd, Haynes, Doll, Winemiller, Lemsky, Burgy, Werle & Heilman, 1992).

Crescer, iniciar um novo ciclo de vida, começar um novo trabalho, morar em uma nova cidade, vivenciar um novo amor. Envelhecer, fechar uma etapa da vida, sair do trabalho (seja por vontade própria, seja por vontade de outrem), despedir-se de uma cidade, perder um amor. Cada um de nós enfrenta ou enfrentará um dia uma ou algumas dessas voltas que o mundo dá.

No último ano da minha graduação, eu disse a mim mesma que precisava enfrentar um novo ciclo antes de concluir o meu curso: precisava ter uma experiência prática na área clínica. E foi no grupo da Prof. Inês Gandolfo que me foi dada a oportunidade de atender um grupo de mulheres entre 50 e 65 anos com base na abordagem humanista denominada Psicodrama. As temáticas que apareciam nas sessões eram bastante diversificadas. As corajosas mulheres que lá estavam, pagando um valor simbólico pela necessidade de sentirem melhores ao longo do tempo reportavam insegurança, medo e ansiedade quando se referiam à síndrome do ninho vazio (sentimento de enorme vazio emocional com a saída dos filhos de casa), ao luto (algumas delas eram viúvas e começavam a vivenciar a perda de pessoas conhecidas), à solidão, à dificuldade de manter fortes laços de amizade e de ter um relacionamento íntimo. Outro assunto que discutíamos muito era a saída delas do mundo do trabalho. A perda de um papel e os efeitos que essa perda representariam em suas vidas eram encaradas de diferentes formas: algumas diziam que estavam sonhando com a chegada do dia em que poderiam ter o tempo livre pra fazer o que bem quisessem. Outras, expressavam que se sentiriam extremamente perdidas caso não pudessem mais voltar ao trabalho e que, além do emprego, perderiam amigos, hábitos, costumes...

A decisão sobre qual seria o tema da minha investigação começou a tomar forma no dia 10 de Outubro deste ano e a decisão aconteceu no dia 23. No dia 10, eu tive minha primeira aula de Qualidade de Vida no Trabalho com a professora Margarida Pedroso Lima. Ela se apresentou e disse que pertence aqui ao que corresponde ao Departamento de Psicologia Clínica na UnB. Contou-nos que possui formação em Gestalt terapia e Psicodrama e que foi convidada para ministrar a disciplina e ser uma das orientadoras para o nosso mestrado. Ela explicou que, apesar de não ter formação em Psicologia Organizacional, atua como consultora na área de Saúde no Trabalho há muitos anos. O tema que ela propõe para investigação é a 'reforma' (
'reforma' denota, para o português de Portugal, 'aposentadoria', termo que se assemelha aos seus correspondentes em inglês: 'retirement' e francês: 'retraite'). E eu já havia pensado em escrever sobre este tema no meu mestrado caso tivesse ficado em Brasília. Já havia conversado com o professor e amigo Mário César Ferreira, que me atentou para a relevância deste tema na atualidade. Não preciso dizer que a minha identificação com a Professora Margarida e com o tema que ela propôs foram imediatas, né?

Ao começarmos a conversar sobre a definição do projeto, sugeri se não poderíamos construir um Programa de Preparação para a Aposentadoria já que sei que há poucas instituições que adotam esses Programas, mas que em termos de planejamento de carreira, eles são fundamentais. A resposta da Margarida foi a seguinte: “Vocês pode fazer isso no doutorado. O tempo o qual você dispõe não é suficiente para fazer isso. Eu sugiro que você comece com a realização de um diagnóstico sobre quais fatores pessoais e organizacionais influenciam na decisão do indivíduo em se reformar. A problemática a qual nos deparamos hoje é que há um interesse crescente das pessoas em se reformar mais cedo. No entanto, o que o contexto econômico e social pede é que as pessoas prolonguem a sua saída do mercado de trabalho. Analisemos, então, o que leva um indivíduo a querer ou não se reformar e o que as organizações podem fazer diante desta decisão. Nosso papel é pensar concomitantemente no bem-estar do trabalhador e na rentabilidade da organização".

Meu projeto ainda está em construção. Vim aqui contar pra vocês que sinto-me realizada com a escolha feita. Percebo que o tema é atual: é comum encontrar reportagens nos jornais sobre as reações dos trabalhadores frente às mudanças legais referentes à reforma. Observo que ainda há muito a ser investigado: as pesquisas que fiz em reconhecidas bases de dados possuem poucos artigos com o foco que eu pretendo dar. A maioria das pesquisas foca nos aposentados, eu quero investigar as expectativas daqueles que estão em transição para a reforma. Construir um projeto do 'zero' com alguém que também é novo nesta área de investigação faz com que eu me sinta mais à vontade com a minha orientadora e que tenha a consciência de que um desafio muito gratificante está à minha espera. Conversar com a Margarida sobre qualquer assunto e ver a forma como ela ensina, pesquisa, orienta apenas reforça o meu desejo (muitas vezes explícito, outras vezes, escondido) de, em breve, realizar uma formação na clínica. Acredito que a formação não irá se opor, mas apenas contribuir para as competências que tenho desenvolvido na área organizacional, a qual gosto muito também.

Por fim, estudar este tema envolve ler sobre diversas dimensões do mundo que circunscreve as pessoas que estão em transição para a aposentadoria. Estou motivada a refletir sobre as determinantes legais da aposentadoria, sobre os efeitos do envelhecimento na saúde física e mental do indivíduo, sobre a capacidade do Estado em aumentar ou não os gastos com a previdência, sobre as fases de desenvolvimento humano, sobre perdas e luto, sobre a minha entrada no mercado de trabalho, sobre... roda mundo roda gigante... o tempo passou num instante, nas voltas do meu coração... para obter uma visão holística desse campo de estudos.

- Every exit is an entrance to somewhere else - Tom Stoppard.

8 de novembro de 2008

Desejo mesmo de mudar...















Ele: Vamos entrar
Ela: Não tenho tempo
Ele: O que é que houve?
Ela: O que é que há...
Ele: O que é que houve, meu amor,
Você cortou os seus cabelos?
Ela: Foi a tesoura do desejo,
Desejo mesmo de mudar...

Tesoura do desejo - Alceu Valença

26 de outubro de 2008

Voy vivir en España

No dia 21 de outubro, terça passada, recebi o resultado oficial: a minha Host University será a Universitat de Barcelona (http://www.ub.edu/), ou seja, passarei o período de mobilidade do mestrado na cidade de Barcelona, Espanha. O grupo "Home-Coimbra + Host-Barcelona" é composto por quatro pessoas: yo, Sabrina (brasileira), Ana Teresa (portuguesa) e Eduardo (português). Um dia escreverei mais sobre eles!

Depois de cerca de 10 meses sonhando em morar em Paris (porque submeti minha candidatura em dezembro do ano passado), confesso que levei um susto quando recebi a resposta. Na hora, o choque não foi tão grande porque o Eduardo e a Filipa vieram me contar a notícia com um sorriso no rosto: já que muitas pessoas imaginam, outras comprovam, e milhares divulgam: Barcelona é uma cidade fantástica. Espero poder dizer o mesmo. Na realidade, dentro deste resultado existe uma história looonga para responder às questões: por que não foi Paris? por que não foi Valência? por que caí em Barcelona? Mas, de verdade, estou sem paciência total pra contar essa história à vocês. Muitos foram aqueles que me disseram: "Tudo que acontece na nossa vida tem um sentido pra ser, tem um momento pra acontecer, nada é por acaso!" Eu confesso que apesar de concordar que muito do que acontece na nossa vida não está ao nosso alcance, sempre tentei fazer de tudo pra ser agente do meu caminho. Neste caso, eu inclusive averiguei a possibilidade de mudar esse resultado. E descobri que poderia mudar. Mas, desta vez, como também estava sem paciência para mais burocracia, mais papelada, mais espera, e como acredito que, em qualquer cidade que fosse, seria uma experiência rica, prefiri não mudar e investir as minhas energias em acreditar e viver em breve: serei uma nova mulher pós-Espanha! =)


Quanto tempo ficarei por lá? Minhas aulas começam no início de março. Pretendo ir em fevereiro para ter tempo de procurar um cantinho pra ficar. A princípio (= inicialmente) e em princípio (= teoricamente, isto é, segundo as regras do mestrado), o período de mobilidade é de um semestre. Assim, final de julho, início de agosto começam as minhas férias e eu já poderia deixar a cidade. Maaas, conheço algumas pessoas que solicitaram ficar 1 ano na Host e conseguiram. Isso depende do caminhar da dissertação, da relação com o Host Tutor (orientador de Barcelona), do local onde vou coletar os dados, da grana, enfim... só vou decidir isso quando estiver lá e sentir se vale a pena ou não pedir para aumentar o período de mobilidade.

Bom, mas eu não fiz este blog para escrever sobre o futuro certo. Muito menos sobre o incerto! Muitos posts sobre Barcelona virão. Minha vida é aqui e agora! É sentimentos, percepções, desejos e pensamentos sobre como me sinto hoje aqui em Coimbra. E neste exaaato momento encontro-me satisfeitíssima em termos físicos e psicológicos! =) Estou com a minha barriguinha cheeeeia de muqueca de peixe, de camarão, pirão, arroz branco, farinha!!! =P É que uma amiga da Cary, a Isa, que também é de Salvador mas mora em Setúbal veio passar o final de semana com a gente para curtir a Latada (festa tradicional aqui de Cuímbra que começou na quarta passada e só termina nesta quarta) e para cozinhar uma muqueca de peixe D-E-L-I-C-I-O-S-A!
Agora, queridos leitores, preciso ir. Vários textos enormes esperam po mim. Deixo vocês com a imagem da minha unha rosa (fui eu que pinteeei =) e da muqueeeca verde e amarela (tudo culpa do coentro e do dendê)! ô lê lê...

14 de outubro de 2008

Homer Simpson vai votar em Obama


Acordo, qual cor vou vestir hoje? (tenho me vestido cada dia mais colorida para contrapor à chegada do frio), cereal, banana picada, iogurte de morango, suco de frutas vermelhas, arrumo a cama, escovo os dentes, atravesso a ponte Santa Clara conversando sobre os vizinhos com a Cary, chego à biblioteca, encontro alguns amigos (sabrina, leo, francisco, filipa), faço pesquisa, reunião, debate, enfrento conflitos de opinião, vou à xerox, mais xerox, outra xerox? (quanto mais colegas encontro na xerox, mais textos me lembro que ainda tenho que tirar...), hora do almoço, subimos ladeira, mais escada, mais ladeira, cantina da medicina, filaaa de 20 minutos, muita gente, bastante gente, por favor, salmão, micas (uma forma diferente de se fazer feijão - muito gostoso) e legumes, por favor, isso, sem arroz, não! sem batatas tbm! de volta pra faculdade de psicologia, desce ladeira, desce escada, aula, aula, aula. Mais debate, mais reflexões, mais xerox... Caminhamos de volta pra casa, a Cary e eu conversando sobre os temas de investigação do mestrado: responsabilidade social, grupos e equipas (é aqui, chama-se equipAs), stakeholders, cultura organizacional, qualidade de vida no trabalho ou fusão de empresas?! Chegamos em casa: internet e banho. Depois, janta, que tal massa com almôndegas?! Corta cebola, alho, tomate, mais polpa de tomate, champignon, cozinha almôndega, cozinha a massa. Mistura tudo. Ligamos a TV: crise, crise, crise, falência, euro sobe, dólar cai, dólar sobe, anticrise?, banqueiros, bolsa, eleições americanas... está chegandooo!!!

Obama ou McCain?! O Homer quer votar em Obama... mas não deixam!!! Como assim?!?!

http://www.youtube.com/watch?v=759CTx4BGf8


ps.: dizem que a facção McCain está a fazer pressão para o episódio não ir ao ar antes do dia 04/11. o produtor da série havia respondido que: "Qual o problema das pessoas virem antes? Trata-se, acima de tudo, de uma crítica ao sistema de voto norte-americano".

28 de setembro de 2008

Mamãe já dizia... "Recria, recomeça"


Uma semana de aulas. Um mês de Coimbra. Sete disciplinas mais a orientação para a dissertação. Aula de segunda a sexta. Algumas impressões sobre os costumes culturais dos portugueses. Documentos para regularizar, compras pra fazer, banheiro pra lavar, roupas pra passar. Um sonho sendo realizado...

Nesses poucos dias pude peceber que, em termos de conteúdo e até de método, nada do que vi e verei é novo neste mestrado. Claro que vamos aprofundar em alguns assuntos, mas a base é a mesma. O que é bom porque pode ser que seja mais fácil pra mim. Melhor ainda foi o orgulho que eu senti do mestrado da minha Universidade de Brasília. O nosso Departamento de Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações não está atrás do primeiro mundo (e eu generalizo sim porque as disciplinas, os métodos cobrados e as referências para as 5 Universidades são padronizadas na medida do possível).

Me dei conta disto na quarta-feira passada à tarde, quando estava a ouvir uma professora falando com um português de Portugal corrido, e eu tendo que me esforçar pra entender, pensando nas panelas que estavam à minha espera depois de uma macarronada que ficou cozida demais, que eu e a Cary fizemos na noite anterior (e eu morrendo de vontade de comer a macarronada de atum e alcaparras do papai, sempre 'al dente').

Se a minha vida era mais confortável em Brasília, se eu estava do lado das pessoas que amo, se a qualidade do mestrado é a mesma, se há mais atrações culturais na minha cidade do que em Coimbra, o que vim eu fazer aqui?! Sentir saudades da família e dos amigos aos domingos à noite enquanto passo roupas em frente às telenovelas brasileiras (eles adoram)?!

Tudo por causa da novidade. Vai fazer um mês que estou aqui, mas parece que já faz uns 3 meses. A quantidade de pessoas que conheci, lugares que vi, sentimentos que experimentei, doces diferentes que comi, produtos de limpeza e lençóis e pães que tive que escolher, cadeiras que montei, manuais da lavadora de roupa e louça que li, tradições que ouvi, livros que encontrei, costumes que compartilhei e histórias do meu país e daqui que relembrei...

O que todos dizem é que logo logo esse meu encantamento vai passar...

Ah é?! Então, mudarei o caminho à Universidade, trocarei de esporte, farei optativas diferentes, frequentarei outro café, comprarei um novo livro, pegarei um trem no dia de domingo para uma cidade desconhecida...

Vou viver como a Cora Coralina e a minha mãe me ensinaram:

"Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha um poema.
E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte.
Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede."
Cora Coralina (1981)

Mãe, esse poema me lembra nossas viagens à Piri e aquela à Goiás Velho!

Semana que vem é aniversário da minha mãe. E tudo o que mais queria era passar o dia com ela....

"- Mãe, não vai dar, mas levo você e seu modo de viver sempre comigo. Recriarei a minha vida sempre, sempre...!"

18 de setembro de 2008

Era uma vez, Pedro e Inês...


Dom Pedro I (1320-1367) foi o oitavo rei de Portugal. Era filho do rei Afonso IV e da princesa Beatriz de Castela. Em 1339 casou-se com Constança Manuel. Naquela epoca, as mulheres da nobreza possuíam damas de companhia. A dama de companhia de D. Constança era uma fidalga castelhana chamada Inês de Castro (1320-1355).

Um belo dia, Pedro e Inês se apaixonaram. Então, começaram a viver um amor proibido numa região à margem esquerda do rio Mondego em Coimbra (Portugal). Região essa denominada hoje de Quinta das Lágrimas. Nada mais nada menos que a região onde eu moro. =)

Mas a Quinta das Lágrimas foi o cenário da sorte e também do infortúnio dos amores de Pedro e Inês. Assim que o pai de Pedro, Afonso IV, descobriu o relacionamento dos dois, ordenou a morte da fidalga. Inês de Castro morreu a punhaladas em 1355. O local acolheu o amor e as últimas lágrimas de Inês. As lágrimas então derramadas inspiraram Luís de Camões a criar o nome de Fonte das Lágrimas e muitos outros escritores a consagrar o amor eterno de Pedro e Inês. Foi essa história que deu origem à expressão “Inês é morta!” quando você quer dizer que já é tarde para mudar algo, que não adianta mais. “É tarde! Inês é morta.” Pois que Pedro tentou diversas vezes convencer seu pai de não mandar matá-la.

“A Quinta das Lágrimas ocupa uma área de 18, 3 hectares e é uma área ajardinada em torno do Palácio do século XIX e um bosque situado na encosta a sul. Na propriedade existem duas nascentes que foram compradas pela Rainha Isabel de Aragão para abastececimento de água, através de um pequeno aqueduto, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha e, naturalmente, o Paço Real, que ficavam ali bem perto. A existência de duas caleiras - uma diretamente ligada à mina e a outra ligada à chamada Fonte da Tradição - que se unem na Fonte dos Amores, permitiam que a água transportasse as mensagens que iam e vinham do Paço Real. Foi também essa água que ficou vermelha após a morte de Inês. Na verdade, há uma alga chamada Hildenbrandia Rivularis que vive na água doce e é vermelha. O Jardim da Quinta das Lágrimas é constituído maioritariamente por espécies exóticas, algumas das quais com mais de duzentos anos. Recentemente, foi ainda criado um jardim medieval, em homenagem aos amores de Pedro e Inês. Trata-se do primeiro jardim medieval em Portugal. O objetivo foi criar um ambiente de clausura e simplicidade, para o qual foram selecionadas cerca de cinquenta espécies de plantas diferentes, cuja existência já antes da época dos Descobrimentos é largamente comprovada por gravuras e documentos da época.” (informações obtidas na net)


No domingo passado, eu e a Cary fomos conhecer o famoso jardim que situa-se dentro do Hotel Quinta das Lágrimas (http://www.quintadaslagrimas.pt/). O dono do hotel decidiu incorporar o a área de modo que o jardim, as dependências do hotel e o campo de golfe são abertos ao público (a entrada custa 2 euros por pessoa). O Hotel fica bem ao lado do nosso apartamento, a cerca de 300 metros. As fotos do jardim e do meu apto estão no álbum.

Vamos ao que interessa?! Minha nova morada é:

Urbanização Quinta das Lágrimas lote 16 R/C esquerdo
Bairro: Santa Clara Cep: 3040-092 Coimbra - Portugal

ps.: O lote 16 é comporto por 4 apartamentos de modo que não possuem números e são classificados como térreo esquerdo, térreo direito, primeiro andar esquerdo, primeiro andar direito. O nosso apto é o do térreo esquerdo. Só que os portugueses chamam térreo de …?! Rés-do-chão. =) Logo: R/C esquerdo (basta escrever assim).

Vem?!

13 de setembro de 2008

Máfia eterna e Manoel: amo muito!


Nem acredito na quantidade de coisas que fiz do dia 4 ao dia 13 de setembro: conheci a faculdade de psicologia (e outras), fiquei 2 dias em hotel, conheci algumas praças da cidade de coimbra, mudei para o apartamento, fiz todas as compras essenciais da casa, pesquisei, escolhi e comprei meu portátil (notebook=), pesquisei opções de internet, escolhi e estou com net em casa, agendei a renovação do meu visto, abri uma conta no banco, fui ao posto de saúde me cadastrar, peguei minha carteirinha de estudante, conheci alguns colegas do mestrado. E no meio disso tudo, passei 3 dias e meio em Porto na casa onde a Vanessa (minha amiga da psicologia) vai ficar por seis meses. Cidade fantástica! Ainda vou voltar!!! E em todo esse tempo tenho conhecido aos poucos a Carine (Cary) que é de Salvador, também passou nesse mestrado e está morando comigo. Um dia escreverei mais sobre ela, mas já posso dizer que estamos construindo uma linda amizade! =)

Antes de contar sobre a minha nova morada, nova cidade, novos amigos, quero dedicar este primeiro post às minhas amigas e amigos que ficaram, em especial à máfia eterna, meu grupo de amigas de infância composto por 3 grandes mulheres: Hyrla Moss (miguxa), Fernanda Lima (feguxa) e Ana Luiza Alvim (baiana). Elas me deram, no dia da minha partida, dois presentes que eu não esperava receber e que estão aqui comigo, fazendo parte do meu dia-a-dia.

O primeiro presente é o Manoel, um hipopótamo lilás muito corajoso que, sem me conhecer, embarcou comigo para Portugal logo depois de nascer e tem me feito companhia desde então. Ele veste uma cueca boxer muito sexy e seu nome completo é Manoel Seidl Lima Alvim da Silva =). Ele nasceu no dia da minha partida (03/09) com 240 gramas e 38 cm (felizmente, vai permanecer assim =). Eu não inventei essas informações. Ele veio com certidão de nascimento e com tudo isso escrito.

O outro presente… ainda me emociono toda vez que eu o vejo... é um caderno personalizado. A capa é o verbete “friend” sendo que algumas palavras foram modificadas para se adaptar ao nosso grupo (vide foto no álbum “partida” no meu Picasa). E a contracapa… são 5 recadinhos: um da miguxa, outro da feguxa, um da Bá, um da mamãe e outro do papai me encorajando a estar aqui!!! Chorei muito quando vi. Com ele, posso levar as palavras dos 5 todos os dias pra faculdade!!! Já na contracapa da capa de trás está o “making off”, ou seja, os e-mails trocados da miguxa com as meninas, com a momis e o papai para confeccionar o belo caderno.

Dedico este post à criatividade: a máfia me mostrou o quanto ela é capaz de emocionar. Dedico este post às surpresas: porque eu nem imaginava que receberia um hipopótamo de pelúcia; um caderno com recadinhos; um cartão, uma foto e um brinco de flor feito com escamas de peixe (Taci); um cartão e um girassol enorme natural (Angel); um lindo cartão (Fê psicologia); um conjunto de brinco e colar de prata e pedras com cartão (Yara); uma ligação de Syracuse um dia antes da partida (Fezita), cartas e fotos de vocês, leitores-queridos… obrigada!!!

Dedico este posts às amizades verdadeiras: aquelas capazes de perdurar mesmo com a distância.

Vamos conseguir, né?!

3 de setembro de 2008

Música de despedida

Gente, minha partida será daqui a 5 horas. Venho, então, escrever meu último recadinho na minha super máquina que me acompanhou nesses últimos 3 anos (que vai ficar com a mamãe), nessa cadeira giroflex que vou morreu de saudades (porque a do meu apto não deve ser tão boa assim) e dentro no meu quarto aconchegante onde deixarei minhas colcha lilás maciiia, que me embalou por muitas noites, e o meu quadro querido "Menina à janela" do Dalí...

Agradeço imensamente pela presença de vocês nas minhas festividades formatológicas! Construir esse momento inesquecível ao longo de um ano com a Laly, a Lili, a Rafa, o Bê e o Fê, ver a Gardênia, Regina, Inês e Penha dançando rap, fazer um lual improvisado na casa da Lidinha no final da aula da saudade, encontrar o André pra vê-lo cantar antes de todo mundo, receber o diploma das mãos da mamãe, fazer o discurso da homenagem aos pais, ser parte da galera da resistência tanto na colação como no baile, representar a água dentre os quatro elementos no nosso culto ecumênico, descer as escadas ao lado do papai e da mamãe ao som de "A menina dança" dos Novos Baianos e compartilhar com vocês fisicamente esses momentos foi surreal!!! Ester, Baiana e Fezita, entendo que não puderam estar presentes fisicamente. Mas, vocês estavam dentro de mim dançando muuuuuito!!! Nossa, a gente não parou um segundo! ;)

Nesses últimos dias, uma letra de música marcou a mim, e acredito que a muitos de meus amigos e colegas também. Aliás, esse é um apelo aos oradores - Bê e Belinha - que enviem o discurso da turma para nós psicólogos e psicólogas do 1/2008, já que eles se inspiraram nessa letra para fazê-lo.

Tocando em frente (Almir Sater e Renato Teixiera)

Ando devagar porque já tive pressa
Levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Eu nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou

Todo mundo ama um dia todo mundo chora,
Um dia a gente chega, e no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Ando devagar porque já tive pressa
Levo esse sorriso porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história,
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz


Ficamos em contato por aqui, ok?!

4 de agosto de 2008

Todo dia é dia!

Encontro-me num momento em que agradecer às pessoas pela conquista a qual vou desfrutar daqui a exatamente 1 mês é muito importante pra mim. Espero, nos próximos posts, falar um pouco sobre o que aprendi com você, leitor-amigo. Hoje, é dia de falar sobre uma das lições que os meus pais, meus eternos amigos-heróis, deixaram pra mim.
Lembro como se fosse hoje de um papo que rolava geralmente por volta da quinta, sexta-feira quando eu estava lá pela oitava série: "-Ai caramba, papai disse que se eu não tirar 8 na prova de matemática, não vou poder ir na festinha da Lu no sábado" - dizia uma colega minha. E a outra, angustiada: "-Sério?! Só 8? Minha mãe quer ver meu boletim e disse que vai tirar minha mesada se eu não estiver com tudo acima de 9". Achava estranho esses comentários, mas ficava sem graça de perguntar o motivo pelo qual os pais delas diziam isso... meus pais nunca tinham dito aquilo pra mim, e eu também ficava sem entender porquê.
Mamãe sempre foi muito animada e sempre teve muitas amigas. Lembro de uma época que ela costumava dançar todas as quintas-feiras. E domingo no final da tarde? Pode ter certeza: ela foi ao cinema. Mas também é super comum vê-la trabalhar aos sábados (o dia todo) e, em alguns finais-de-semana ela não para! Passa o dia batendo perna: da academia pro salão, do salão pro almoço com a tia, do almoço com a tia pra feira, da feira pra casa, da casa pro barzinho com as amigas! Quando me via muitas horas sentada na escrivaninha, ela já gritava: "Julianaaa, sai daí um pouco, minha filha! Vai fazer o que hoje? Olha, tem uma peça de teatro na Caixa que está fantástica!".
Já papai sempre foi mais caseiro. Não conheço ninguém no mundo que lê tanto como ele. Literatura, história, direito, principalmente. Mas papai lê de tudo (que considera de qualidade) e a Folha? Todos os dias. Ele adora encontrar os amigos e, pra isso, não há dia definido: qualquer dia da semana à noite ele se reúne com o pessoal do Debater na casa dele (uma ONG que recruta professores para dar aulas pré-vestibular numa cidade satélite no DF de modo que o objetivo é tentar ajudar àqueles que não tiveram condições de estudar num colégio particular a entrar na Universidade pública). Ah, ele também faz parte de um grupo de leitura que costuma almoçar junto pra discutir um livro que todos leram no prazo de um mês. Quando esse encontro acontece? Geralmente às sextas, mas pode ser que seja outro dia. Caminhar no parque é uma atividade que o papai faz com frequência e com prazer, no dia que der tempo. E além de trabalhar de segunda à sexta, pode ser que precise trabalhar sábado e domingo, também.
Observava, desde pequena, na casa de alguns colegas, que trabalho e lazer eram vistos como trabalho versus lazer e, assim, encontravam-se em mundos, pólos e lugares diferentes, de modo que primeiro deveria vir o trabalho, a obrigação (e a fala já carregava o peso da origem do termo "trabalho": tripalium - instrumento em forma de tripé que era utilizado para torturar as pessoas) e só depoooois, como uma espécie de recompensa, viria o prazer. Ué? Mas, calma aí? Trabalhar não pode ser divertido? Lá em casa, trabalho e lazer sempre se misturaram, se confundem e andam juntos. Prova de literatura? "-Não, filha, não precisa pegar o livro da escola não, olha só aqui essa música do Chico: 'Pedro, pedreiro, penseiro esperando o trem' é uma figura de linguagem chamada aliteração em que se repete consoantes, vogais ou sílabas num só verso." E a gente jantava e tentava encontrar isso em outras músicas... nunca esqueci!!!
Hoje em dia, vivo com esse lema: todo dia é dia! Tomar sorvete de frutas vermelhas e nutella na Sorbê às terças é muito mais gostoso que aos sábados. Eu digo e repito isso, mas ninguém acredita! =) Ir ao clube às sextas-de-manhã é melhor que aos domingos porque dá pra ver os micos leões-dourados de um lado pro outro. Todo dia é dia de começar um bom livro, de olhar pela janela do quarto, andar de patins, aprender uma nova língua, comer bem e d e m o r a a a d a m e n t e, reunir os amigos, ir ao mercado buscar a fruta da estação, conhecer um novo café, ouvir aquela música, de trabalhar durante horas naquele projeto, rir de si mesmo e, em tudo isso: aprender, estudar, ensinar...
Meus pais me mostraram que a vida só tem sentido quando a gente ama o que faz. E, vivendo assim, cada ação é capaz de trazer alegria, cada gesto tem seu valor e cada vitória pode acontecer a qualquer momento, em qualquer dia. Pai, mãe: obrigada! Amo vocês todos os dias, dia após dia, cada dia mais e mais.

21 de julho de 2008

Gosto de chorinho, de chorar baixinho

não se culpe, ju!!! cara, olha tanta coisa acontecendo ao seu redor. é eu sei mas isso não justifica sabe tô muito oito oitenta tô muito feliz e às vezes tô muito triste tô cansada de mim mesma tô cansada de chorar por tudo choro pela saudade que eu já sinto pela alegria dessa nova vida que está por vir pela relação que não poderei construir pela felicidade da conquista choro baixinho choro soluçando escondido e na frente das pessoas em qualquer hora ou lugar independente de quem está ao meu redor não consigo controlar se alguém começa a dizer quie vai sentir minha falta lá vem ela imagina no meio do bar a galera alegre feliz bebendo e se divertindo e eu chorando por saber que estarei longe daquelas pessoas em breve putz dói muito cansei eles devem ter pensado que eu devia estar bêbada já mas nem estava juuuuuro. vc sempre foi chorona, juuuu! é a sua forma de colocar suas emoções, sejam elas alegres ou tristes pra fora. juliana seidl é mateiga derretida e acabou. é o seu jeito: se respeite, poxa. quem não entende, não é seu amigo. e com esses, vc não precisa se preocupar. (manda eles, internamente, tá?! praquele lugar!!!) pare de se cobrar, amiga. eu não sei como eu estaria dando conta de tantas obrigações e perdas que você ainda vai enfrentar. me sinto uma idiota uma imatura queria voltar atrás não acho que eles merecem poderia ter sido diferente não não me culpo mas me arrependo é diferente é diferente e o mais engraçado é que as dúvidas se foram é tô bem certa agora bastante reconheço que poderia ir mais madura pessoal e profissionalmente reconheço sim e isso pra mim já é um indicador de que devo e posso ir e vou crescer por lá mais e mais a partir de agora só que elas é as lágrimas saem quando eu menos espero quando eu menos quero muitas vezes.
ju, vai tomar um banho, calma, respira. se permita parar. quando quiser. e chore, chore, chore - toda vez que der vontade. acho que dessa vez eu mudei sabia esses últimos dias me ensinaram muito mas muito mais do que eu poderia imaginar não que eu vá parar de chorar porque realmente não consigo mas eu quero enfrentar tudo isso de modo diferente pra valer é pra valer agora. nos próximos dias, quero passar a encarar essa realidade com mais tranquilidade. minha vida estava sem pausa, sem pé nem cabeça! agora eu a quero com vírgula, com coragem, maturidade, aspas e ponto final (.)

"Tem mais samba no encontro que na espera
Tem mais samba a maldade que a ferida
Tem mais samba no porto que na vela
Tem mais samba o perdão que a despedida
Tem mais samba nas mãos do que nos olhos
Tem mais samba no chão do que na lua
Tem mais samba no homem que trabalha
Tem mais samba no som que vem da rua
Tem mais samba no peito de quem chora
Tem mais samba no pranto de quem vê
Que o bom samba não tem lugar nem hora
O coração de fora
Samba sem querer

Vem que passa
Teu sofrer
Se todo mundo sambasse
Seria tão fácil viver"

(Chico Buarque - Tem mais samba)

29 de junho de 2008

Sabiá fique por lá...


Pensar no futuro envolve relembrar o passado.
Nessa época de tantas mudanças, de conclusão de uma fase e início de outra, tenho recordado frequentemente alguns momentos inesquecíveis da minha infância.

As cantigas de ninar que as minha tia Socorro cantava pra mim me tocam até hoje e, quando aparecem na minha memória, eu sinto uma sensação boa... uma mistura de cheiro de mar com balanço de rede.

A cantiga do Sabiá era uma entre as mais cantadas por ela:

"Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho
voou voou voou voou
Juliana que gostava tanto do bichinho
chorou chorou chorou chorou
Sabiá fugiu pro terreiro
foi cantar no abacateiro
Juliana triste a chorar:
- Vem cá Sabiá, vem cá!
Sabiá responde de lá:
- Não chores que eu vou voltar".

Hoje, Juliana responde de cá: Não voltes se quer ficar.

Amar outrem é querer vê-lo feliz, independente do caminho que ele encontrou para a felicidade.

Quando eu morrer, quero que todos os meus órgãos sejam doados. E que minhas cinzas sejam jogadas sobre o mar em frente à casa azul e branca da tia Socorro (Tibau do Norte - RN).

Pensar do futuro envolve imaginar todas as situações que estão por vir.

8 de junho de 2008

Só sei que não sei o que me vem pela frente.


Eu não sei como vai ser a despedida: será que vou entrar no aeroporto chorando feito criança ou será que estarei aparentemente tranqüila, levando as poesias de Fernando Pessoa pra ler no vôo Brasília-Lisboa? Não sei onde vou morar: se vai ser num apartamento novo de uma velha senhora ou numa casa velha cheia de gente nova. Eu não sei qual vai ser minha impressão da cidade: se vou achar tudo muito diferente do que já vi ou se vou me relembrar das cidades portuguesas que conheci. Eu não sei qual vai ser o nível do mestrado: se terei que passar horas a fio, madrugadas adentro na biblioteca ou se vai dar tempo de ir até nas discotecas. Não sei se vou querer ficar em contato constante com vocês: ou se vou preferir me distanciar para me proteger e ir a procura de novas amizades, de lugares onde me sinto acolhida pra pra poder, um dia, dizer se vejo a possibilidade de construir minha morada em outro lugar que não a Pátria amada. Não sei quando venho à minha cidade natal: se virei sempre nas férias de agosto ou se vou morrer de desgosto de não poder vê-los tanto quanto gostaria.

Como vai ser chegar em casa sem ouvir minha mãe escutando blues? Como vai ser almoçar nos finais-de-semana sem a companhia do meu pai? Vou morar com chilenas e italianos ou polacas e mexicanos? Será que vou aperfeiçoar o meu português e voltar falando: "estás a falar"? Será que vou poder ligar para as minhas amigas daqui quando precisar? Será que finalmente vou aprender a gostar de pastel de Belém? E será que vou me apaixonar por alguém?

Não sei quando volto! Se venho a passeio ou pra ficar... será que vou conseguir um emprego por lá? Só sei que a hora é agora. Que eu preciso ir. E que irei aberta a novas pessoas e possibilidades...

Só sei que meu coração está contente de não saber o que me vem pela frente.


“Vou imprimir novos rumos

Ao barco agitado que foi minha vida

Fiz minhas velas ao mar, disse adeus sem chorar (mentiiiiiira! =)

E estou de partida (...)

Quero viver diferente

Que a sorte da gente

É a gente que faz"

(Novos rumos - Paulinho da Viola)


Foto: Eu na Torre de Belém (Lisboa) - vendo a vida passar...

18 de maio de 2008

Escrita terapêutica

Rosa tem 53 anos, é divorciada, tem 3 filhas e falta apenas 1 ano para se aposentar. Rosa é uma minhas clientes desde setembro do ano passado. No primeiro contato, é comum perguntarmos o que levou a pessoa a procurar a terapia. Se a gente percebe que há uma dificuldade por parte da cliente para trazer a demanda de forma clara, vamos passo-a-passo, utilizando determinadas técnicas para compreensão da história de vida daquela pessoa.


Na sessão seguinte, decidi realizar a construção do genograma. Vamos lá: nome do pai e da mãe, idade deles, morreram ou não, causa da morte; irmãos e irmãs de Rosa, idade e como se dá o relacionamento com cada um/a deles/as; nome do pai das filhas de Rosa; idade quando se conheceram e quando se separaram; causa da separação; nome das filhas de Rosa, idade...

"- Juliana, tá faltando incluir o meu filho".

"- Filho?" – respondi assustada porque nenhum filho havia sido citado no primeiro contato.

"- É, meu filho que faleceu com 5 anos...".

Tocar no assunto "- E como foi a perda do seu filho?" nunca acontecia sem ser ao lado da caixinha de lenço de papel... Esse assunto tocava Rosa de tal forma que a deixava impossibilitada de se abrir. Impotente e impossibilitada ficava eu, jovem estagiária, que não sabia como trazer um assunto de extrema relevância para que ela compreendesse como isso impacta na relação dela com as filhas hoje e, também, para a construção do vínculo terapêutico. Mas, a terapia, como toda relação, envolve respeitar o tempo, o espaço do outro e ir trabalhando cada assunto seguindo o ritmo do cliente... é como uma dança também, temos que aprender a se deixar levar...

Nesse meio tempo, trabalhamos os demais papéis de Rosa: mulher, professora, filha, irmã, amiga, divorciada... e ainda assim não senti espaço para trabalharmos aquele temido papel: o de mãe que sofreu uma perda.

Tive que recorrer à minha supervisora de estágio e ela prontamente me disse: "- Peça a ela pra escrever".

Eu não sabia nada sobre escrita terapêutica, então, fui atrás! E descobri que um professor da Universidade La Sapienza, Luigi Solano, autor do livro Scrivere per pensare (ainda não traduzido para o português) acredita que a escrita terapêutica ajuda a pessoas a descrever detalhes de experiências negativas, explicitar sentimentos, colocar os fatos em ordem cronológica e estabelecer nexos. Escrever sobre experiências traumáticas pode ajudar pessoas a refletir sobre si e superar a dor da perda. A escrita e a fala não se contrapõem, mas a fala possibilita o espaço para a associação livre (fundamental para o tratamento pois estimula que o cliente traga questões inconscientes), já na escrita, o foco é mais definido. É como se, ao serem colocados no papel, desejos, necessidades e emoções se tornam mais claros.

A Rosa?! Ah, depois que ela me trouxe duas páginas repletas de rabiscos, círculos manchados de tinta e muita dor, eu tenho observado o quão rico é ver as reações dela ao ouvir suas palavras por meio da minha voz. E assim, pouco a pouco, vamos mais à fundo nesse processo difícil, mas necessário, de enfrentamento da dor.

A terapia – seja ela verbal, teatral ou escrita – não é apenas para aqueles que apresentam uma demanda grave. É uma forma de auto-conhecimento.

E é por isso que eu estou aqui: para, ao escrever, me auto-conhecer.

Obs1.: Alguns dados foram alterados para preservar a identidade dela.

Foto: eu escrevendo - nesse caso, nada interessante, apenas conferindo as rifas dos formandos.

7 de maio de 2008

Isabella: nosso luto necessário

O caso da menina Isabella, que morreu de forma brutal e misteriosa aos 5 anos de idade na cidade de São Paulo, tem sido acompanhado pelos brasileiros há alguns dias. Você quer ver as fotos? ou prefere os vídeos? o velório? as cartas? a missa de sétimo dia ou os depoimentos dos colegas? Não se preocupe: está tudo no ar.

Pois é, o que vem sendo discutido agora é: houve exagero da mídia ao relatar o caso? Ao meu ver, sim. A mídia não quer apenas informar, ela quer nos chocar, tocar - a ponto de nos fazer sofrer. Eu fiquei me perguntando, por exemplo, qual foi o objetivo de entrevistar os ex-coleguinhas da menina. Será que aquelas crianças de 5 anos têm a capacidade de compreender a perda da colega? E como será que eles se sentirão ao tomar consciência do que falaram "para todo o Brasil"?

Ao mesmo tempo, esse exagero levantou questões maiores, tais como o reconhecimento de que vivemos, sim, em uma sociedade do espetáculo. E o que vamos fazer com isso?

Uma das minhas supervisoras de estágio na clínica, Maria da Penha Nery (psicóloga, psicodramatista, psicoterapeuta e professora) escreveu um texto sobre isso. Penha, obrigada por suas belas palavras. Você é uma daquelas professoras que eu faço questão de chamar de educadora.

Isabella: nosso luto necessário.

(Texto de Maria da Penha Nery)

"Perdão Isabella, mas você foi escolhida. Escolhida para chorarmos por você, uma pessoinha que não conhecíamos, mas que nos foi apresentada no estrondo de uma queda. E aí, a admiramos. Encantamo-nos com seu jeito, seu sorriso, sua meninice. Passamos a amar a criança desamparada, rejeitada e que se tornou um bode expiatório, a tal ponto de ser vítima de uma violência irreversível.

Porém, Isabella, você foi escolhida para chorarmos outras coisas... Então, você também se torna o bode expiatório de todos nós, cidadãos de um país em desenvolvimento, também criança, cheio de ingenuidades, também crescido, mas menino-homem violento. Sim, choramos a incrível violência doméstica existente no Brasil, contra crianças e mulheres... Choramos o elevado índice de desemprego, os empregos subalternos desvalorizados, os serviços refeitos, os produtos violados... Sofremos com os indivíduos que passam fome, nas habitações miseráveis das favelas, sem infra-estrutura... Enlutamos dia-a-dia com o trânsito caótico e mórbido... Com a poluição, com a solidão da vida moderna.Estamos desesperados com a ganância, a arrogância, o lucro exorbitante dos 10% mais ricos do país e com a passividade, exploração e humilhação dos pobres e miseráveis, maioria da população. Ficamos estarrecidos diante da falta de líderes, da falta da luta política por um país efetivamente mais justo. E nos paralisamos na apatia e na hipocrisia da classe média que se deita em berço esplêndido.

Isabella, por você, vivemos o luto das florestas desmatadas, das madeiras enterradas, da caça aos animais em extinção... Vivemos o luto do trabalho escravo, da morte no campo por exaustão... dos índios tratados como animais... dos negros, ainda excluídos da sociedade. Choramos pelo nível educacional do país, pela qualidade baixíssima de ensino, pela quantidade exorbitante de evasão escolar... Nos petrificamos diante da corrupção, diante dos políticos hipócritas e egoístas... Sofremos com os assassinatos cruéis de gays, com as adolescentes que se entregam aos estrangeiros, porque não conseguem ver outras saídas diante da oferta em dólar, em euro, para a tão sensual e "fácil" imagem midiática da mulata brasileira.

Não conseguimos simular descaso diante de epidemias que já deveriam ter ido embora... E choramos as filas dos hospitais, as enfermarias inóspitas e a falta de tratamento para o cidadão... Nos perdemos diante dos salários injustos de médicos e professores.

Isabella, perdoe-nos, mas seguimos notícias suas, passo a passo. Elas se tornaram uma novela e quisemos ver todos os capítulos. Precisávamos nos certificar do que realmente acontecera em sua tragédia. Quem sabe a partir daí, nós também iríamos olhar a tragédia de tantos "aviões" de sua idade nas belas praias do país... E lamentar ter que dirigir com os vidros dos carros fechados, para que um pedinte de sua faixa etária não nos invada, com seu olhar tristonho ou para não sermos vítimas do ódio de um garoto que se endureceu de tanto viver abandonado nas ruas.

Esse pedido de perdão, Isabella, é porque não choramos só por você, pois talvez seria suficiente chorar por você na primeira noite da notícia de seu bárbaro assassinato. Ou nem chorarmos, por estarmos anestesiados pela banalidade da violência no país, pelos constantes assassinatos, roubos, extorsões, ilegalidades e abusos de poder presentes em nosso cotidiano, na ideologia de nossa mídia e em tudo que ela torna espetáculo acrítico.

Isabella, nós nos deprimimos com tanta coisa! Você não viverá muitas delas, não só a depressão em relação às questões sociais e econômicas de nosso país, mas também em relação às nossas mazelas pessoais! Tantas as sombras dentro de nós! Não sabemos o que somos capazes de fazer, com tanta frustração e agressividade contidas. Não temos consciência do quanto precisamos de justiça, de punir e de sermos punidos, diante dos males que cometemos. Não percebemos o quanto temos preconceitos, o quanto não aceitamos conviver com as diferenças. O quanto temos invejas e ciúmes e não conseguimos buscar saídas criativas em relação a esta dor... E, assim, nos desumanizamos para sobreviver em nossa vida medíocre...

Isabella, por você, choramos por nós mesmos. Choramos o quanto nos tratamos mal, levando a vida como se não houvesse amanhã. Choramos o quanto ignoramos quem está do nosso lado, no nosso lar, no nosso trabalho, no nosso prédio, no nosso bairro, quando deixamos de lutar pelo bem estar comum e olhamos apenas o nosso umbigo.

Pois é... agora descanse em paz, Isabella. Você fez muito por este mundo. Ah! Se você soubesse! Cumpriu a missão de nos dizer que vivemos, mas que nosso mundo está em queda, e que antes do estrondo, precisamos colocar-lhe uma rede de proteção chamada amor, para que possamos resgatar nossa dignidade e alegria de viver."

2 de maio de 2008

What touches you? Le travail humain.


what touches me. was mich berührt. ما يمس لي. 是什麼觸動我. lo que me toca. ce qui me touche. ό, τι αγγίζει εμένα. ciò che mi tocca. どのようなタッチメイン. o que me toca. что касается меня.

em inglês, em alemão, em árabe, em chinês, em espanhol, em francês, em grego, em italiano, em japonês, em português, em russo ou em qualquer outra língua, o verbo to touch, anfassen, للاتصا, 觸摸, tocar, toucher, αγγίζετε, toccare, に触れる, tocar, прикасаться apresenta uma série de acepções diferenciadas dentro da mesma língua e entre elas.

como mãe é mãe, vou exemplificar por meio da minha língua-mãe: a última flor do Lácio.

as lojas avisam: não é permitido tocar em qualquer mercadoria. há quem diga que é preciso ver pra crer e tocar pra sentir. e o telefone da casa da minha tia? toca sem parar! e a orquestra, quando toca, não te toca? tem gente que, quando fica chateado, não toca mais no assunto. quem trabalha na roça toca os bois, com chicote ou espora. aquele gesto do rapaz tocou a moça no fundo do coração. no brasil, quem quer levar algo adiante diz: vamos tocar aquele projeto?

querida família (porque os meus amigos são a família que eu escolhi),
é isso que eu vim fazer aqui: escrever o que me toca!
quero escrever sobre momentos, experiências, pensamentos, pessoas que me tocam ou me tocaram utilizando todas as conotações que esta palavra pode assumir.

se há algo que me toca, me interessa, me chama a atenção é o mundo do trabalho. por isso, inicio este blog no dia de hoje - dia de maio de 2008 - dia mundial do trabalho.

o dia mundial do trabalho foi criado em 1889, por um congresso socialista realizado em paris. (é por isso, e pelo meu interesse pela história e cultura francesas, que o título deste blog aparece em francês). a data foi escolhida em homenagem à greve geral, que aconteceu em 1º de maio de 1886, em chicago, o principal centro industrial dos estados unidos naquela época.

milhares de trabalhadores foram às ruas para protestar contra as condições de trabalho desumanas a que eram submetidos e exigir a redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias. naquele dia, manifestações, passeatas, discursos e piquetes movimentaram a cidade. mas a repressão ao movimento foi dura: houve prisões, feridos e até mortos nos confrontos entre os operários e a polícia.

em memória dos mártires de chicago, das reivindicações operárias e por tudo que este dia significou na luta dos trabalhadores pelos seus direitos, o 1º de maio trata-se de um dia de luto e de luta até os dias atuais. e os jornais de hoje corroboram essa informação.

em Interlagos, na Zona Sul de São Paulo; em Zacarta; em Berlim e em Hamburgo; em Havana; em Moscou; em Instambul; em Lahore e em Tessalônica, várias foram as manifestações.

e qual delas te tocou mais?

fonte auxiliar: ibge; folha de são paulo e dicionário houaiss