3 de setembro de 2009

Fechando gestalts... amando de diversas formas.

Foi no dia 03 de setembro de 2008 que saí de Brasília para realizar um sonho. Na verdade, eram vários sonhos de uma só vez: conhecer várias cidades, conhecer pessoas de diferentes cidades. E não era um conhecer qualquer, um passeio turístico, uma vista a zoológico. Era pra entrar em contato, pra sentir a cultura, o jeito de andar, de falar, de se relacionar. E, nesse monte de sonhos, estava um outro sonho que representaria o meio pelo qual eu pudesse alcançar os demais: realizar um mestrado em Psicologia. E desses sonhos todos, havia um maior: me auto-conhecer. Poder entrar em contato com pessoas e lugares diferentes me faria descobrir, apesar de sempre estarmos nos auto-descobrindo, como eu me relaciono com as pessoas, o que eu realmente quero fazer pra obter meu ganha-pão e pra sentir prazer (e como concilicar as duas coisas), por qual causa quer lutar, em qual cidade gostaria de viver e, quem sabe, construir um novo ciclo. Enfim, uma infinidade de coisas pra descobrir, viver e contar...

Hoje, no dia 03 de setembro de 2009, encontro-me de malas prontas de novo. Desta vez, saio de Coimbra e volto a Barcelona para recomeçar. Neste ano que passou, morei em Coimbra e em Barcelona. Conheci Lisboa, Porto, Guimarães, Fiqueira da Foz, Conímbriga, Buçaco, Leiria, Faro, Santiago de Compostela, Valência, ilha de Mallorca, Sevilha, Córdoba e Granada. Passei três semanas na minha querida Brasília e agora estou em Coimbra para resolver questões burocráticas e, claro, rever pessoas: sempre o melhor objetivo de grande parte das minhas viagens. Em julho e agosto, meu blog ficou meio parado, é verdade. Rabisquei muito, não postei nada e mais, apaguei posts. Meus últimos dois meses foram intensos em diversos âmbitos da minha vida e cruciais para: fechar gestalts! Para Frederick Perls, fundador da Gestalt Terapia, fechar a gestalt significa tentar harmonizar o campo perceptivo, se interessar não apenas pela figura, mas reparar no fundo também. Na clínica, o termo assume um sentido mais complicado. Para o senso comum, o termo passou a significar chegar a uma conclusão, finalizar uma percepção, terminar um ciclo.

Hoje, chega ao fim um ano de mestrado e caminho em direção ao último. Essa etapa pode estar em chegando ao fim, mas os sonhos... ahhh esses só aumentam! E agora, faltando algumas horas para partir de Coimbra e recomeçar em Barcelona, compartilho com vocês, leitores, uma conclusão que me marcou fortemente após o término deste ciclo: estou aprendendo a amar.

Meus meses em Coimbra e em Barça e minha passagem por Brasília me fazem sentir que entrei em contato com diferentes formas das pessoas cuidarem de mim, gostarem de mim e me amarem e eu também cuido, gosto e amo de formas diferentes. Sinto que ao longo desse ano, experenciei diversas formas de amar em todos os papéis: como filha, amiga, subrinha, prima, irmã adotada, ex-namorada... Mais que aprendi, senti na pele que há diversas formas de se expressar o amor e que é preciso respeitá-los. Tem gente que verbaliza frequentemente, gosta de presentar. Tem aqueles que olham nos olhos sem piscar, outros evitam o olhar. Há quem goste de fazer surpresa, outros enviam um recado com palavras inesquecíveis ou há ainda aqueles que parecem ter medo de abraçar.

Com papai e mamãe, aprendi a expressar melhor o meu amor por eles, apesar de sempre achar que posso fazê-lo mais e melhor. A distância e a consequente imensa saudade nos fazem não apenas dar mais valor a esse amor, mas a valorizá-lo mais constantemente. Ver de forma clara tudo que fazem por mim, o quanto lutaram pra me ver aqui e como se esforçam para que saibamos lidar melhor com as saudades demonstra que o silêncio deles denota uma preocupação com o meu enfrentamento a esse turbilhão de desafios e, o não-dito um dia será por mim percebido... como agora. Não deixa de ser: uma forma de amar.

O fato deles me deixarem ir e reconhecerem a importância de que eu passe tanto tempo com eles como com os meus amigos quando estive em Brasília me mostra que não é fácil cuidar sem controlar, mas que eles saibem muito bem a diferença. Digo muito mais "te amo" que antes e eles também, porém percebi que antes dava muito mais valor ao ouvir esta expressão e hoje valorizo muito mais as pequenas ações do dia-a-dia, que antes nem sequer dava importância... como o meu pai cuidando da minha documentação do master e me levando pra conhecer lugares novos em Brasília ou a minha mãe me ajudando com a análise dos dados da minha pesquisa e fazendo meu café-da-manhã durante esses vinte dias...

Senti também que é possível amar alguém mesmo reconhecendo que o melhor a se fazer agora é se afastar. Amei e amo pessoas com quem estive em pouco contato ao longo desse ano e, juntos, quando nos reencontramos, continuamos a reconhecer que o melhor é seguir em frente, conhecer outras pessoas e amar outras pessoas. Tão paradoxal quanto verdadeiro.

Além disso, quando terminamos um ciclo como a graduação, parece que ficaram milhares de amigos, mas depois de menos de um ano vemos quem verdadeiramente ficou, quem buscou, procurou, se fez presente. Quem são aqueles que me sinto à vontade pra contar o que vivi e senti nesses meses mesmo tendod ficado distante por longos meses e quem são aqueles capazes de reparar em que eu mudei e dividiram isso comigo. As pessoas que me criticam, seja para dizer o bem ou para dizer o que eu fiz de mal, esses sim se preocupam comigo. E se for dito com jeitinho, aí surge a certeza: "Esse aí, é meu amigo!"

Como diz uma música da India Aire, a qual adoro cantar: "The only thing constant in the world is change". E como relembram Bidê ou Balde, música que marcou minha chegada na Europa: "Há sempre amor mesmo que mude". Felizmente, um ano passa, gestalts se fecham, cidades de transformam, mas os verdadeiros amores... ahhh eles ficam pra sempre latentes dentro da gente, independente de haver muito ou pouco contato. E foi na visita a cidade onde comecei a sonhar - Brasília - que reconheci que mudei muito, que as pessoas que amo têm mudado também e que estamos todos nos movimentando e nos amando, das mais variadas formas! Quem viver, sentirá e verá!

"Ela vai mudar
Vai gostar de coisas que ele nunca imaginou
Vai ficar feliz de ver que ele também mudou

É sempre amor mesmo que acabe
Com ela aonde quer que esteja
É sempre amor, mesmo que mude
É sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou"
(Bidê ou balde - Mesmo que mude)