1 de setembro de 2010

Entre flores e sabiás

Que sensação boa chegar sem ter esperado o tempo passar. Nunca um vôo de 9 horas foi tão curto. Da próxima vez faço o mesmo: durmo pouco nas quatro noites anteriores ao vôo porque só assim pra conseguir babar por quatro horas na blusa pólo do velhinho fofo que sentou ao meu lado. Ao avistar a terra vermelha do meu quadradinho, veio como um flash a imagem da minha chegada a Brasília em fevereiro de 2006, vindo do inverno québécois. Lembrei do sentimento de alivío-alegria que bateu quando senti as rodinhas do avião tocarem o chão, choraaava que nem criança que pede colo. O colo que eu queria se chama latossolo.

Desta vez não teve nem choro contido. Estaria eu mais insensível? E comecei a racionalizar... "É que como já fui e voltei algumas vezes, e como adquiri experiência e gosto por essas idas e vindas, sei que elas vão acontecer a qualquer momento." Ou mesmo que nem aconteçam, o mais importante é a gente se sentir preparado e disposto a enfrentar tais idas e vindas (nossas - e dos outros). Esses dias, duas amigas de Brasília vieram dizer que eu sou corajosa por ter vivido sozinha em outra cultura e reconstruído uma rede social do zero. O engraçado é que além de não me achar nada corajosa por isso, reconheço que foram poucos os momentos tão marcantes e gostosos como o de chegar perdida em uma cidade desconhecida. Medo? Medo eu tenho é dessa vida pequena e pacata onde as pessoas se preocupam com futilidades e discutem abobrinhas. Me arrepio ao assistir mulheres conversando sobre pulseiras e langeries por mais de 10 minutos. Arrepio, coceira e agonia é o que me dá. Vontade de correr e pedir socorro. Então começo a me perguntar: Eu faço eu parte deste clã? Qual é a minha tribo, afinal?

Voltei feliz sim. Feliz por poder abraçar, beijar, conversar e estar com meus amores maiores, aqueles que estão dentro da gente quando a gente tá sozinho no mundo. Voltei feliz por acreditar na mudança e na reconstrução: do indivíduo e dos seus hábitos, das suas amizades e crenças, do seu jeito de enxergar, sentir e transformar as pessoas e o meio onde ele vive. Meus pais continuam workaholics, mas mais sociáveis, comprometidos e viajantes. Meu cãozinho tá cego, surdo e manco, mas ele continua sendo o ser mais lindo desse Universo. O único que percebe quando eu estou triste mesmo antes de colocar pra tocar aquele CD dor de cutuvelo total. Minhas amigas estão lindas, coradas, dispostas e bem amadas (algumas tias e ricas também). Felizmente nenhuma conversou sobre pulseiras e langeries por mais de 5 minutos até o momento. Ufa!

E é com saudade da vida que Gràcia me agraciou que eu quero uma vida nova na minha amada Brasília. Meus passos ainda estão se encaixando de leve em uma dança repleta de dúvidas, piruetas e desejos. Sei que ser a saudosa pessimista que acha que a vida boa ficou lá fora não vai além. Quero que as lembranças de uma vida de sonhos e fantasia me inspirem a mudar a realidade da minha cidade. Mas pra quê me inspirar lá longe se são as próprias cores e contrastes da minha ilha que me lembram que é possível florescer diante das dificuldades...