7 de dezembro de 2009

Vou visitar 李芳 = Li Fang!

Como este fim de ano eu já sabia que não ia ao Brasil e meus pais não vem me visitar como no ano passado, só me restava uma outra boa opção: conhecer mais uma cidade! Planejar uma viagem com a Cary (baiana querida que morou comigo em Coimbra) e/ou com mais alguns amigos(as) do master a alguma cidade que ainda não conhecemos aqui pela Europa era minha primeira e, sem sombra de dúvida, ótima possibilidade! Inclusive porque, claro, há milhares de cidades que eu ainda não conheço e estou louca pra encontrar-las logo, entre elas: Berlim, Budapeste, Praga e Amsterdam...

Bem, só que daí a Li Fang não parou de me enviar e-mails me pedindo pra visitá-la na China. Não não não, a Li Fang não é nenhuma amiga chinesa que conheci pelas minhas andanças pelo mundo, ela é brasileira mesmo, lá de Santa Catarina e nos conhecemos em 2005. Eu, ela e mais três pessoas havíamos conseguido uma bolsa pra estudar durante um semestre na Universidade McGill, Montréal, Canadá. Eu comecei a buscar essas pessoas para conhecê-las antes de viajar. A Fernanda - é assim que ela se chama no Brasil - foi a que respondeu ao meu e-mail de maneira mais rápida e carinhosa. Disse que queria sim me conhecer antes de ir e que adoraria poder planejar viagens comigo. Mas, segundo ela, isso deveria ser feito logo e infelizmente deveria ser um único encontro porque como já estávamos em finais de junho e em agosto já deveríamos ir a Montréal, ela passaria o mês de julho em Floripa com a família. Então, em uma simples conversa por telefone, com muita empolgação e vontade de aproveitar o tempo da melhor forma, decidimos: vamos comprar a passagem juntas pra Montréal, chegamos juntas, ficamos no mesmo hostel, buscamos um lugar pra morar juntas, moramos juntas e viajaremos para NYC e Washington DC antes das aulas começarem. Pronto, decisão feita, nos encontramos pela primeira vez na agência de intercâmbio CI da 405 norte (agora fica na 211, se não me engano...) pra comprar as passagens. Compramos e de lá fomos almoçar no Naturetto (sim, eu já era frequentadora assídua do investimento do Tobias há muito tempo =). Nesse primeiro encontro, mal tivemos tempo de conversar direito e foi no dia do embarque, 5 de agosto ou por aí, que entramos no aeroporto e as 12 horas de viagem passaram que eu nem vi... era eu e ela se descobrindo, contando histórias marcantes da nossa infância e adolescência, dos momentos inesquecíveis e dos sonhos pessoais e sociais que ainda almejávamos alcançar, ver e viver.

A nossa amizade foi se consolidando ao longo desses meses de maneira super intensa, respeitando o momento, o espaço e as diferenças de cada uma. Depois que as aulas na McGill terminaram, como a UnB entrou em greve, decidimos (como era mais barato e eu não tinha idéeeia de qndo poderia voltar a Europa novamente), planejamos nosso primeiro mochilão pela ZoRopAaa!!! (É tão louco lembrar que naquela época eu realmente achava que não voltaria pra cá nem tão cedo...) Foi com a Fê, o irmão da Fê (Felipe), a prima da Fê (Mari), uma amiga da Fê (Manuuu) e o ex namorado da Manu que partimos para a esperada viagem a Londres, Barcelona, Roma e Paris. E Barça foi a cidade escolhida pra entrar 2006 com o pé direito. Fizemos uma reserva num restaurante no Porto Olímpico e todas as vezes que passo por ali e pelos lugares que estivemos, lembro como se fosse ontem de cada detalhe, do que comi no jantar, do momento do brinde, da gente buscando um orelhão pra ligar pros nossos pais, até a correria pela praia, todos gritando de alegria pra espantar o frio. Dançamos até o sol nascer e esses momentos todos fizeram minha relação com a Fê cada vez mais forte e a vontade de conhecer a Europa mais a fundo, também.

Assim como eu, a Fê também queria voltar a viver fora depois de se formar na UnB. Só que ela buscou opções nos Estados Unidos. Desde o ano passado está fazendo um mestrado em Relações Internacionais em Syracuse, maaaaaaaaaas poderia escolher qualquer lugar do mundo pra fazer o último semestre: inclusive uma cidade brasileira, se ela quisesse. A minha amiga escolheu então a capital de um país emergente como o Brasil, que tem chamado cada vez mais atenção de estudiosos de todas as partes, pelo estrondoso crescimento econômico mas por uma democria caracterizada por ainda ter largos passos a percorrer...

O nome completo da Fernanda na China é 李芳, mas como esses símbolos não me transmitem qualquer informação sem um google translate por perto, ela explicou: "Ju, se pronuncia Li Fang". E a Fê, pelo menos por alguns meses, virou Li. Tive que pedir o nome, telefone e endereço dela pra pedir o visto.

Conseguir o visto pra China foi tão enrolado que mereceria outro post! Não pelo trâmite em si porque, na verdade, em 4 dias úteis o visto chega na sua casa, mas especialmente pela minha condição atual: sou uma brasileira, com documento de identidade português que moro na Espanha e quero ir a China... com o documento de identidade português eu não pude pedir o visto em Barcelona e tive que passar uma noite em Lisboa. O que poderia ser uma simples viagem Bcn-Lisboa foi um pouco mais complicado que isso, maaaaaaaas, com o fim do ano chegando, deixemos as complicações de lado e focalizemos nossa atenção ao que é positivo: o visto da china e as passagens já estão em minhas mãos!!! =) Agora, só me falta comprar um bom casaco de menina-esquimó, porque deve fazer abaixo de zero por lá, e trocar alguns €uros por yuans.

É... em 2009 não passarei o Natal perto dos meus amigos e familiares. Não vou participar de amigo oculto, nem ajudar a minha mãe a comprar os presentes. Não tenho a menor idéia de como vamos passar essa noite, mas pode ser que a passemos comendo cachorro no espeto, caminhando pelas ruas de Pequim... por quê não?! Na companhia de uma grande amiga, em uma cidade totalmente nova. E tem opção melhor??? Pra mim, não tem. Estou num momento tão bom de curtir a liberdade que aproveitar as oportunidades exóticas e enriquecedoras que me surgem é o melhor que eu posso fazer! Se preferimos a opção tradicional ou a mais inusitada, isso não importa. Importante mesmo é estar onde queremos estar. E estar bem. Eu me sinto tão bem, mas tão bem que só a Nina Simone pra me ajudar a expressar esse feeling todo...


"It's a new dawn
It's a new day
It's a new life for me
and I'm feeling gooooood!!!

Oh freedom is mine
and I know how I feel..."


Ju & Li @ Brasilia
Agosto de 2009

14 de novembro de 2009

Respuesta a una amiga, a la soledad y al miedo

Hace dos semanas, recibí un mensaje de una amiga por coreo electrónico. Nos vimos la última vez no hace mucho tiempo, en agosto, cuando estuve de vacaciones en Brasilia. En el mensaje, ella me decía que está pasando por un momento de decisiones difíciles sobre qué hacer de su vida: quiere cambiar de alguna forma pero no sabe en qué aspecto ni cómo. Ella es una gran amiga, una mujer muy fuerte e inteligente y ahora está empezando a pensar en la posibilidad de salir de casa. Entonces, ella me dijo que se acordó de mí para ayudarla. Me sentí súper orgullosa de que ella tenga se acuerdado de mí. En el mensaje, ella me hizo algunas preguntas: “¿Cómo es vivir lejos de tus padres durante dos años?”, “¿Echas mucho de menos a tus amigos de Brasilia?”, “Te sientes muy sola?”, “Como enfrentas los momentos de soledad?”

Mientras pensaba en cómo iba a contestar a las cuestiones hechas por mi amiga, muchas ideas y reflexiones pasaron por mi cabeza y miles de sentimientos pasaron por mi corazón. Lo que podría ser sólo una conversación entre amigas, se ha convertido en un momento terapéutico.

Estoy segura de que fue mucho más fácil salir de casa por 2 años después de ya haber afrontado esta misma experiencia por menos tiempo en otros periodos. Después de vivir en Toronto durante dos meses en 2004 y en Montreal durante seis meses en 2005, quería salir de Brasil en 2008 no apenas con ganas de hacer un Máster, pero especialmente porque ya imaginaba que sería más una experiencia increíble en términos de maduración y crecimiento personal. O sea, cuando tenemos la posibilidad de enfrentar retos difíciles poco a poco la adaptación es mucho más fácil que cuando los debemos enfrentar de una única vez.

Le dije a mi amiga también que echo mucho de menos a todos mis amigos, por supuesto. Tener un amigo de otra cultura que no sea la tuya, compartir asuntos íntimos con personas que no hablan tu lengua materna es bastante delicado. Tengo, en muchos momentos, una sensación de tristeza y de pérdida (incluso) de los que amo en Brasil. Muchas veces siento, cuando miro sus fotografías y descubro sus novedades, que no estoy participando de la vida de ellos como gustaría. Pero, al mismo tiempo, evito llamar a mis amigos o familiares en Brasil con constancia. También nunca tuve muchas ganas de buscar las asociaciones de brasileños en Portugal o España. És muy fácile encontrar brasileños por las calles y claro que conocí muchos brasileños así, hablando espontáneamente con ellos cuando les escuchaba, pero tampoco me esfuerzo para participar de citas brasileñas. Desde que llegué, me dije a mi misma que solamente sería capaz de construir nuevos lazos aquí si no estuviese conectada a mi país con frecuencia. Creo que vivir con plenitud en otro sitio exige enfrentar la soledad.

Luego, amiga querida, el cambio más doloroso que sufrí en estos meses no se debe acostumbrarme con la cultura, la comida, el clima. Tampoco se refiere a hablar en inglés o español, tener muchos trabajos que hacer o plazos a cumplir. Lo que más me llamó atención en términos de aprendizaje personal fue notar la importancia de la seguridad. Notar que no soy tan segura como pensaba que era. Y tengo notado la presencia de la seguridad en diferentes contextos. La mejor presentación de un trabajo de cualquiera asignatura no fue de aquel colega que yo sabía que había estudiado bastante, sino que de aquel alumno que transmitió más seguridad mientras hablaba y, por esto, explicó todo de forma muy clara y tranquila. Claro que el conocimiento lleva a una mayor seguridad, pero ni siempre es así. Otro ejemplo. Me dé cuenta que los hombres que con quien me interesé por demasiado en toda mi vida fueron los que se demostraron extremamente seguros de ellos mismos y de sus escojas al estar a mi lado. Y esta seguridad me transmitía una confianza que me invitaba a querer estar con ellos por más y más y más tiempo. No estoy hablando de personas con elevadísima alto-estima ni mucho menos snobs, pero de personas de reconocen sus cualidades y defectos y saben vivir consciente de ellos.

Puede parecer raro para ti, querida amiga, decirte esto pero vivir sola me hice llegar a una conclusión interesante: aquí tengo menos amigos, pero siento que tengo más libertad. Pocas fueron las veces que tuve que decidir qué hacer por fines de semana en Brasilia: ya había siempre dos o tres invitaciones para fiesta en la casa de uno, cumple de otra, cena con mis amigos del inglés, cine con los amigos del francés, longos almuerzos con mi papa o mama y barbacoas con la familia. Aquí, abro los periódicos y me pregunto: ¿para dónde me voy hoy? Me deparé con el miedo en muchos momentos que no quería quedarme en casa y no tenía otra opción. Poco a poco sentí que al revés de tener simplemente que buscar algo que hacer en casa y sentirme sola, podría hacer lo que quiero. Tomar una ducha, arreglarme, y salir: ir al cine, a un concierto o comer en un bueno restaurante. Puedo y no hay razón para tener miedo de ir para dónde quiera, independiente de la compañía ser mis propios deseos.

Siempre me gustó estar sola por las tardes en mi casa, pero no estaba acostumbrada a salir sola. Creo que esto se debe también a la organización y socio estructura de Brasilia, de los bares y restaurantes (que no tienen balcón) y especialmente a la cultura brasileña que no valora la experiencia de aprovechar momentos solos. Imagino que esto va cambiar y ya está cambiando como consecuencia de la coyuntura actual.

Amiga, en algunos momentos, tomar la decisión de salir sola fue muy fácil. Ya salí y aproveché mucho diversas noches especialmente en Gràcia donde vivo y que me ofrece muchas buenas opciones. Pero, en otros muchos momentos tuve que crear una fuerza, a cual aquí llamo de seguridad para enfrentar los miedos que me surgieron en los momentos que en que no tuve nadie para compartir mis novedades o hacerme compañía. Y hasta hoy es así: algunas veces ya llego en casa con todas las ganas de salir muy pronto como hay otras en que miro por la ventana y me quedo indecisa sin saber qué hacer.

Aprendí y tengo aprendido que la experiencia de vivir en profundidad (sea donde sea: en nuestra ciudad o en cualquiera) exige que sepamos sentirnos solos y este aprendizaje es inmensurable. Más que esto, nos ayuda a que sepamos relacionarnos con otras personas. Hoy, estoy segura de que no hay nada mejor en la vida que estar cerca de las personas que amamos. Mejor que esto es estar cerca de ellos después de ter vivido momentos en que fui capaz de aprovechar la vida, sentirme bien y manejar desafíos sin la presencia o ayuda de ellos.

Amiga, no sé si te ayudé, pero necesito decirte que las preguntas que me hiciste me inspiraron muchísimo. Te echo mucho de menos, pero ya sabes porqué no te busco tanto. Quédate tranquila que sobre mis cambios y novedades más fuertes serán compartidos contigo. Y espero que tú hagas lo mismo. =)

Un fuerte abrazo, Ju.

18 de outubro de 2009

Passando a limpo.

No mesmo dia ou no dia seguinte que eu cheguei em Barcelona perguntei a Sara, espanhola que mora no apto há mais tempo: "- Então, como vocês fazem com a limpeza?" Afinal, é sempre bom saber as regras da casa e era eu quem tinha acabado de chegar. Ela olhou pra mim com uma cara de "tá achando que eu sou sua mãe, minha filha?" e respondeu:
- A gente não tem regras. Cada um limpa o que quer, quando quer de acordo com seu bom senso.

Fiquei com aquela cara de "huuuuum... e se o meu bom senso não for igual ao seu?" e respondi: "ah tá... melhor assim!" e saiu um hehe meio sem graça. A resposta da galega me deixou confusa sobre como agir dali pra frente. Especialmente porque eu não me sentia em casa ainda. Entrava no banheiro e pensava "mas não somos 4? Pq tem 6 escovas de dentes no pote se eu ainda não coloquei a minha?" De quem são esses cremes, essas toalhas e essas coias espalhadas.... ahhhh eu moro com um homem! Tinha esquecido... há de acostumar-se.

Levou algumas semanas até eu ter coragem de limpar o banheiro. Pra mim, não estava limpo. Não sei se é a influência do amor pela fera felina que convive conosco, mas eu achava que a limpeza deles era meio de gato, sabe? Não tiram as coisas para passar o pano, que estranho...
Até que um dia, eu decidi intervir. Escolhi uma bela tarde catalana de dijous em que não houvesse ninguém em casa para me sentir mais à vontade. Secos e Molhados nas alturas e lá fui eu cantarelando começar o trabalho... Primeiro, tira o tapete, balança, revista, lixo, a estante dos cremes e põe tudo no corredor. Depois tira tudo de cima da pia e passa pro quarto ao lado: o sabonete líquido, as pastas de dente, o pote com as escovas de aaaaaaarghhhhh! É, foi mais ou menos essa a minha reação quando eu, sei querer (uma variação do sem querer, quando estás consciente do que o seu inconsciente queria fazer), olhei o que havia ali, no fundo do pote vermelho das escovas de dente: um liquído gosmento e espesso amarelo-citrino. (Caro leitor, recomenda-se não comer até o fim das próximas linhas). E foi entre o nojo receoso de olhar y las fuertes ganas de limpiar que eu usei três produtos, um pano e alguns pedaços de papel para deixar o pote todo vermelho!

E com e ao som de Sangue Latino, limpei a pia, o vaso sanitário por dentro e por fora e o espelho com um produto especial e o jornal. O nosso espelho tem uma moldura grossa ao redor e não sei porquê (lá vem o bendito comportamento inexplicável, lembram?) decidi passar o pano na parte de cima da moldura. Naquela parte que ninguém vê, sabe? Pra quê, menina? Me diz, por quê você tem esses comportamentos? Por quê não estava tomando um sorvete na Plaza de Gràcia naquele momento? Negro-azulado e preto-amarronzado, joguei o pano diretamente na basura, como dizem os espanhóis. Depois veio o box! Esfrega, esfrega, esfrega e canta bem alto pra fazer mais força! Por fim, a linda estilosa e delgada vassoura!!! É que eu sou a única que dou valor a pobrecita aqui em casa. Os espanhóis preferem usar o aspirador para limpar o chão. No meu ap em Bsb, aspirador sempre serviu pra limpar tapete e não cerâmica. Que me chamem de mulher do arco da velha, eu ainda prefiro a elegante vassoura ao desengonçado e barulhento aspirador. Acho que é porque gosto de ver o resultado do meu esforço: aquela cabelada toda misturada com a poeira, a unha de um, os pêlos do outro e os do Muxi pra completar... tudo pra pá já! Bem, daí, venho na contramão com um esfregão e um produto beeem cheiroso para dar o toque final. E tem que ser esfregão mesmo porque os banheiros da Europa, até onde eu me lembro, não tem ralo. Ou seja, nada do prazer de deleitar água com sabão no chão. E enquanto ele seca, escolho a roupa que vou vestir. Devolvo todas os objetos do corredor para o novo cômodo da casa (é que, modéstia à parte, parece novo mesmo), pego minha toalha e vou pro banho. Por supuesto hombre!!! Ahora, quien necesita de una limpieza soy yo! ;)

É claro que eu fiquei pensando que eles iam me achar uma obsessiva-compulsiva por limpeza, mas desde aquele dia eles admiram o resultado. Fiquei tão contente que eles tenham observado a diferença que agora faço questão de entrar em ação quando eles aqui estão! E continuo colocando uma musiquinha pra eles verem que limpar um banheiro pode até ser divertido. Mas o que eu ainda tenho observado é a influência do gato na limpeza do casal...

O culpado...

O resultado! =)

6 de outubro de 2009

Sobre e para ela: a minha mãe

Eu lembro como se fosse ontem. Tinha por volta dos meus 15 anos e estudava inglês na Thomas, ali na L2 norte. A mamãe, naquela época, já coordenava o Projeto Com-Vivência, no Hospital Universitário de Brasília. O projeto oferece atendimento a portadores do vírus HIV/Aids e seus familiares e, por ser um projeto de extensão, capacita alunos para realizar os atendimentos com base na teoria e prática da Psicologia da Saúde. Neste dia, como eu estava com preguiça de voltar pra casa andando, caminhei da Thomas só até o HUB e fiquei esperando pra voltar com a momis. Sentada na sala de espera e folheando uma revista, entra uma mulher alta, morena, com notável sobrepeso, aos prantos. A minha mãe aparece e a mulher enorme a abraça. O choro entre soluços me causou tristeza e espanto, mas a cena também era engraçada porque a mulher tinha os ombros, braços e pernas tão grandes e largos que ao abraçar a minha pequenina momis de 1,58 metros de altura, a cobria por inteiro e eu não era mais capaz de vê-la. A psicóloga então se afasta, reaparece na cena e convida a mulher chorosa a entrar em outra sala.

Quando estávamos no estacionamento, finalmente pude perguntar:
- Momis, o que foi que aconteceu?
- Ah, filha, aquela é a irmã de um paciente nosso, que tem HIV. Ele desapareu. Ele desaparece de vez em quando.
- Nossa! E enquanto eu estava imaginando o quão aflita aquela mulher deveria estar, a momis continuou...
- Ele é travesti, trabalha como garoto de programa, usa drogas injetáveis e desaparece muitas vezes, mas a gente espera que ele volte, como das outras vezes...

Nessa época, eu ainda não tinha decidido fazer o curso de psicologia mas já admirava a psicóloga que me trouxe ao mundo. Ficava impressionada com a tranqüilidade, afeto e persistência que ela tinha para conversar com os pacientes, lidar com a morte de muitos deles e enfrentar situações como essas todas as semanas, durante anos. E assim, enquanto amadurecia, observava que trabalhar poderia envolver lutar em prol da qualidade de vida daqueles que, um dia, infelizmente, por diferentes motivos, receberam um pesadelo chamado vírus que impede muitos deles de continuar a sonhar.

Também me lembro de outra história. Lembro dela me contando como faz pra ensinar senhoras a medicar os netinhos que tem o vírus. Porque, muitas vezes, a mãe portadora passa pro bebê, mas não resiste por muito tempo. Então, são as vovós as responsáveis por gerenciar a quantidade de remédios que aqueles pequenos têm que tomar. Como fazer a criança entender que ela precisa ingerir todas aquelas pílulas num único dia para todo o sempre? Como não deixar os coleguinhas e seus respectivos pais saberem o motivo (para evitar o preconceito)? E se as vovós forem analfabetas, como simplesmente entregar a receita se elas não sabem o que aqueles símbolos juntos querem dizer? Não tem problema, a momis e os demais do grupo com-vivência têm paciência. Eles desenham o sol e a lua, relógios e objetos de diferentes cores. E sugerem que em contextos sociais, numa festinha, na escola, o ideal é combinar com os pequenos que é hora de tomar água, de ir ao banheiro, pra não chamar a atenção dos demais e não perder a hora certa do medicamento.

Enquanto eu me preocupava com o PAS, com qual curso marcar ao me inscrever pra prova e com as espinhas que brincavam de campo minado na minha cara, os relatos das vivências da minha mãe na sala 1 do corredor laranja do HUB me davam um banho de água fria para alertar que a vida é muito mais cruel e dura do que eu imaginava. A forma como a minha mãe comentava e criticava as suas histórias, as dos outros ou a dos sensacionalistas telejornais sempre tinham esse tom de me chamar pro mundo real, me incentivar a fazer um trabalho social, pensar nos outros, de não apenas saber dividir, como gostar de compartir, de poder sonhar, mas de não viver em um conto de fadas.

Também me lembro da energia da momis, que muitas vezes, durante a minha adolescência, superava a minha! Lembro dela saindo dia de quinta-feira pra dançar, na sexta ia pro bar, sábado pro Clube do choro, domingo pra Academia de tênis. Culta, antenada e independente, tinha dias que ela olhava pra mim, sentada na escrivaninha do meu quarto e dizia:

- Milha filha, mas o que que é isso??? Você tá estudando até agora? Dá pra parar de estudar um pouco, por favor?!

Foi com ela que eu aprendi na prática, desde cedo, a teoria de que o que somos obrigados a fazer não fazemos com gosto. Porque a motivação precisa ser intrínseca e não extrínseca ( quando depende de uma recompensa: dinheiro, permissão pra sair com os amiguinhos, etc). Nunca fui repreendida por uma nota baixa, nunca deixei de sair quando quis, nunca fui exageradamente admirada por notas altas. Creio que por isso aprendi a estudar pra mim e não pros meus pais, nem pra mais ninguém.

Filha mais velha de uma ninhada de dois casais, me lembro também que a Lili (como a momis era chamada pelos irmãos) não se cansava de incentivar a união da família. Desde que eu me dou por gente até o dia que a vovó Marília nos deixou, tinha encontro na casa da vovó aos domingos, no fim-da-tarde. E aíiii de mim se eu dissesse que não queria ir. Pelo menos não precisávamos de muita coisa: um monte de mixto quente com coca-cola, tios, tias, primos e primas e a vovó juntos era suficiente para começarmos a semana com bom humor. Brincávamos de gato mia, esconde-esconde e também gostávamos de deixar o Faustão no mudo, enquanto o nosso primo fera gigante falava por ele, criando histórias e deixando eu e as minhas primas com dor de barriga de tanto rir.

Ahhh, também me lembro, pelo menos duas vezes por ano a Lili estava lá, com o guia na mão pra organizar uma viagem em família. Caldas Novas, Pirinópolis, São Jorge e Goiás Velho eram as cidades que mais entravam no roteiro. E a galera da turma da vovó Marília ia toda reunida, ao som de Rollings Stones e Jorge Ben, tomar banho de canhoeira gelado, enfrentar as trilhas do cerrado e comer frango com quiabo! Ôoo delíiiiciaaa... é nessas horas que a saudade bate e a gente tem vontade de dizer: eu era feliz e não sabia!

Mas, apesar de todos esses incentivos com a família toda, no dia-a-dia, em casa, a família era eu e ela. O papai sempre sempre esteve presente e nos víamos todos os finais-de-semana, mas sempre morei com ela. E se antes eu não entendia algumas das suas decisões, hoje as levo comigo. No meu quarto, nunca entrou televisão. Não pela inutilidade da máquina em si (sobre a qual fui avisada), hoje eu entendo que a momis entendia que brigar pela escolha do canal é uma vivência em família. E enquanto ela via o noticiário, eu coloca no Chaves na hora do intervalo e sempre rolava uma briguinha. Se eu tivesse minha própria TV, teria visto mais Chaves, mas também teria ficado menos tempo com a minha mãe e teria conversado menos, por mais que entre as conversas estivesse a disputa pelo filme, pela novela, pela jornal ou programa do Jô.

A hora do almoço ela também fazia questão que a passássemos em família (e esse é um hábito dos brasileiros que eu adoro e que sinto falta)! Aconteça o que acontecer, almoçávamos juntas. Durante o segundo grau, foi super complicado porque chegava do sigma às 13:10, 13:15 e ela tinha estar no trabalho às 14h. Então, ficava pronta, já maquiada e com tudo arrumado apenas me esperando pra almoçar comigo, para perguntar como foi a manhã na escola, pra estar mais perto e não apenas pra conferir o quanto de verdura e legumes eu comi.

São por essas e outras lembranças que a minha mãe me ensinou que o sentimento de pertencer a uma família não depende do número de pessoas que a compõem, mas simplesmente das vivências que envolvem ceder, compartilhar e reunir. Mesmo que a reunião seja simplesmente um par de gente! =).

Momis, no dia em que você completa mais um ano de vida quero te agradecer por dar sentido à minha vida, por me ensinar o que é fazer parte de uma família e por me despertar a vontade de viver intensamente o sonho de gerar novas vidas e de construir mais uma família unida.

Deixo de presente uma foto nossa que eu adoro: você vestida de Mangueira pra não esquecer que você é Garota de Botafogo, muito mais forte e guerreira que a de Ipanema, mas que também enche o mundo de graça quando passa...

Feliz aniversário, momis! Te amo.

28 de setembro de 2009

Chinês-norte-americano

Tem horas que cansa ler, escrever, resumir artigos. Então, pra relaxar e não parar de trabalhar, lá vai eu fazer uma atividade que eu adoro: pesquisar novos artigos! E foi numa tarde de abril deste ano que lá estava eu, na biblioteca que eu mais gosto de estudar: Jaume Foster, em Lesseps, buscando artigos. Palavras-chave pra lá, cliques pra cá, me aparece um artigo interessantíssimo: Profiling retirees in the retirement transition and adjustment process: Examining the longitudinal change patterns of retirees' phychological well-being. Publicado na Journal of Applied Psychology, o texto me chamou tanta atenção que eu decidi pesquisar sobre quem o escreveu. 29 anos, atual professor da Universidade de Maryland (uma das melhores em Psicologia Organizacional), completou 2 Doutorados com 26 anos pela Bowling Green University e possui três anos de experiência na Universidade de Portland). Em poucas palavras, o cara me parecia um gênio. Por motivos de segurança pessoal, o nome do chinês-norte-americano não será citado neste post. ;) Apesar de ainda me confundir muito com os nomes chineses, quando vi o dele, me dei conta de que aquele nome não me era estranho!

Neste Master da Universidade de Barcelona, as disciplinas não começam e terminam ao mesmo tempo. São como módulos que duram um mês ou um bimestre. Abri meu calendário de aulas do primeiro semestre de 2009 e lá estava o nome dele. O chinês-norte-americano que é uma das maiores referências na área de aposentadoria seria meu professor em junho. Pense numa mestranda feliz! Na mesma hora, peguei o e-mail do renomado professor e lhe escrevi. Me apresentei, disse que já tinha encontrado um dos seus artigos, teci elogios e manifestei minha elevada expectativa em conhecê-lo. Ele prontamente me respondeu, de forma objetiva mas ao mesmo tempo solícita enviando todos os artigos e capítulos de livros (publicado e em revisão) que já havia escrito até o momento. Voltei pra casa com o sorriso largo de uma assumida nerd que não nega a vontade de um dia ser professora.

Em junho, chegou o grande momento. Cheguei cedo na aula, contente, insegura e com dor de barriga (conseqüência fisiológica do estresse que mais me incomoda. ps.: eu devia ter vergonha de dizer essas coisas =). Pra diminuir os efeitos colaterais, levei um livro onde ele publicou um capítulo. A idéia surtiu melhor efeito do que eu esperava. O professor entrou na sala, me viu sentada com o livro à minha frente e disse: "Wow! You have this book! You're just my favorite student." Não precisava ser assim na frente de todo mundo, mas a dor de barriga foi logo embora.

As aulas começaram e as qualidades do chinês eram nítidas. Cada teoria era apresentada com um exemplo prático depois, as aulas eram dinâmicas, o inglês dele é muito bom (todo mundo estava com medo do inglês do chinês, depois de ter passado um australiano que fala baixo e pra dentro) e disse logo na primeira aula que não gosta de ser severo nas avaliações. No mais, nos pareceu uma pessoa super sociável. Seja porque não conhecia ninguém na Espanha ou porque não falava espanhol, ele estava sempre perguntando quais eram nossos planos pro final-de-semana e não apenas disse como foi encontrar com a gente mais de uma vez.

No entanto, havia certos comportamentos do tal professor que me incomodavam. Mesmo durante a apresentação dos alunos, ele não deixava de trabalhar. Estava sempre com seu notebook, e ficava lendo enquanto os alunos apresentavam. O que dava raiva é que caso o aluno(a) dissesse alguma informação errada ou incompleta, ele virava, interrompia e explicava. Mas o fato dele não olhar pra cara dos alunos me soava como desprezo, como "estou presenciando mais uma apresentação depois de 1000". Também não gostava da forma como ele perguntava aos alunos, uma forma mais que direta, mais pra agressiva, de como quem tira o revólver do bolso e diz: "Mãos ao alto, o que é dissonância cognitiva, fale agora ou cale-se para sempre"! E eu reparava que a maioria dos alunos se sentiam incomodados com isso. No Brasil, em Portugal e na Espanha, estamos acostumados a debater um assunto, mesmo sendo ele um conceito. Já o chinês queria todas as respostas ali, na ponta da língua.

Além disso, me chamou atenção o valor que o cara dá a dinheiro: disse quanto ganha no primeiro dia de aula pra turma toda e tudo que ele qualificava como bom nessa vida, dizia que dava todooo o dinheiro que tem pra ter aquilo. Um dia, na casa da Sabrina, fazendo esquenta antes de sair pra praia no dia de Sant Joan, ele disse que daria todo o dinheiro que tem pra ter uma casa na França e casar com uma francesa... afffff, depois desse comentário, pra não me desanimar mais, eu saí à francesa da conversa. Só pra completar, ele diz que ama o sistema capitalista porque por ser chinês ele pode sim dizer que apenas o capitalismo oferece as mesmas oportunidades a todos e, segundo ele, os Estados Unidos da América é o único lugar do mundo em que a teoria e a prática da Psicologia dos Recursos Humanos mais se aproximam. Segundo ele, só na terra do Tio Sam as grandes empresas investem nas Universidades e um aluno com um U.S.A PhD saí da universidade com 3, 4 grandes oportunidades de emprego. E foi por esse toque materialista excessivo e de louvor aos EUA que eu apelidei o chinês de norte-americano. Porque se não fossem os olhos puxados, eu diria que ele nasceu nos States e não votou no Obama nas últimas eleições.

Porém, incômodos à parte e como ninguém é perfeito, eu não esquecia que o professor é um excelente pesquisador na área que pretendo continuar pesquisando e, por isso, tinha que aproveitar as poucas semanas que ele estaria em Barcelona pra aprender muito com ele. Solicitei, então, reuniões com o professor em horários extra-classe pra mostrar o meu projeto de pesquisa. Ele me ajudou muito, me abriu os olhos pra detalhes que eu não havia reparado e nessas e outras, também por conta da sua admiração obsessiva pelos Estados Unidos, disse que o melhor que eu tinha a fazer naquele momento era terminar logo de escrever essa coisa (vulgo dissertação), e me preparar pra fazer o doutorado aonde??? advinha!!! Pois bem, O cara disse simplesmente T-U-D-O o que eu precisaria pra conseguir um PhD no US: TOEFL, GRE, boas notas no mestrado, 3 cartas de recomendação (de preferência 2 de professores norte-americanos), publicações em Congressos, artigos publicados, essas coisas... Então, explicou que o GRE não é um teste fácil e que seria uma boa opção fazer um curso preparatório antes de me inscrever.

Nesses dias, peguei as informações sobre o referido teste, estudei que nem uma condenada pra disciplina dele, fiz a apresentação com uma dor de barriga dos infernos que começou no dia anterior... enfim, tentei fazer o que pude para demonstrar o meu certo interesse em trabalhar com ele porque nas entrelinhas as suas palavras me convidavam a sonhar "quem sabe um dia eu não posso ser doutoranda dele!"

Último de aula, segunda-feira, dia 06 de julho. O professor mais jovem e sociável que tivemos na UB convidou a gente pra jantar depois da aula, que terminava às 21h. Fomos todos pra um bar de tapas contentes pela experiência riquíssima que tivemos ao conhecê-lo e intensamente aliviados por ter sido o nosso último dia de aula do semestre passado. Conversa vai, conversa vem, o professor estava fazendo marketing do doutorado nos Estados Unidos pra todos os alunos.

Por algum motivo eu virei pro professor e perguntei: Quantos alunos de doutorado você tem? Aí ele disse que tinha apenas 2 porque eles se escrevem todos os dias, almoçam juntos alguns dias da semana, conversam sobre a tese durante o almoço... well, aquele papo de professor workaholic para os pessimistas e com dedicação exclusiva para os otimistas. Daí, eu continuei perguntando (não tenho a menor ideia do porquê eu perguntei isso, mas eu acho que era porque meu anjo da guarda estava por perto): Professor, e quantos anos os seus alunos têm? Um tem 23 e acho que o outro, 24. Noooossa, exclamei, como são novos! E então, o chinês-norte-americano comentou:

"I don't have PhD students older than that. And I don't receive PhD students from other Universities too. It's easier to train them if they finish their Bachelor's degree and then make Master and PhD with me. Students like you, who studied in Brazil, Spain... you learned a LOT of wrog stuff. It would have to spend much more time to teach for students from different Universities".

Alguns milisegundos depois, a nerd impulsiva aqui bateu na mesa com tanta força que o Mateus, marido da Sabrina, gritou: "Suspende o áaaalcool!" O pior é que eu estava longe de estar bêbada. Estava muito consciente do significado que aquelas palavras tinham pra mim e prontamente olhei pro gênio e disse:

"I know why, Professor. It's because for YOU it's much more important the number of publications you have than helping someone to reach a dream".

Ele, então, simplesmente retrucou que pode, quando eu quiser, escrever uma carta de recomendação minha para outro Professor nos EUA. Palavras essas que ratificaram que ele nunca me convidaria pra ser aluna dele. Porque ao terminar um mestrado com 25 anos e tendo passado por outras Universidades, eu estou velha demais e com muitos conhecimentos a serem corrigidos. Nesse momento eu imaginei os alunos dele como os ratinhos de Skinner, treinadinhos da biblioteca pra casa e da casa pra biblioteca! Ah, cómo me gusta la vida en España!!!

Hoje vocês podem ver quanto tempo eu levei pra decidir contar esse episódio. Apesar do tempo que passou, vocês também podem sentir o quanto eu ainda estou abalada por ter escutado uma barbaridade dessas. O mesmo cara que me fez sonhar com um futuro doutorado foi o mesmo que em questão de segundos me deixou sem a menor motivação pra tentá-lo, pelo menos em breve... Mas a decisão de expressar essa história publicamente e a segurança que sinto em não fazer questão desta oportunidade me esclareceram algumas características minhas que ninguém será capaz de retirar: o meu senso crítico, os meus valores e a minha vontade de expressá-los.

Não me lembro de ter comentado este fato com muitas pessoas, mas eu recebi um comentário de uma pessoa pra lá de especial que eu nunca vou esquecer:

"Filha, esse chinês-norte-americano pode ser o que você quiser: um excelente professor, um renomado pesquisador, um crânio, um gênio! Mas psicólogo, filha, ele não é".

3 de setembro de 2009

Fechando gestalts... amando de diversas formas.

Foi no dia 03 de setembro de 2008 que saí de Brasília para realizar um sonho. Na verdade, eram vários sonhos de uma só vez: conhecer várias cidades, conhecer pessoas de diferentes cidades. E não era um conhecer qualquer, um passeio turístico, uma vista a zoológico. Era pra entrar em contato, pra sentir a cultura, o jeito de andar, de falar, de se relacionar. E, nesse monte de sonhos, estava um outro sonho que representaria o meio pelo qual eu pudesse alcançar os demais: realizar um mestrado em Psicologia. E desses sonhos todos, havia um maior: me auto-conhecer. Poder entrar em contato com pessoas e lugares diferentes me faria descobrir, apesar de sempre estarmos nos auto-descobrindo, como eu me relaciono com as pessoas, o que eu realmente quero fazer pra obter meu ganha-pão e pra sentir prazer (e como concilicar as duas coisas), por qual causa quer lutar, em qual cidade gostaria de viver e, quem sabe, construir um novo ciclo. Enfim, uma infinidade de coisas pra descobrir, viver e contar...

Hoje, no dia 03 de setembro de 2009, encontro-me de malas prontas de novo. Desta vez, saio de Coimbra e volto a Barcelona para recomeçar. Neste ano que passou, morei em Coimbra e em Barcelona. Conheci Lisboa, Porto, Guimarães, Fiqueira da Foz, Conímbriga, Buçaco, Leiria, Faro, Santiago de Compostela, Valência, ilha de Mallorca, Sevilha, Córdoba e Granada. Passei três semanas na minha querida Brasília e agora estou em Coimbra para resolver questões burocráticas e, claro, rever pessoas: sempre o melhor objetivo de grande parte das minhas viagens. Em julho e agosto, meu blog ficou meio parado, é verdade. Rabisquei muito, não postei nada e mais, apaguei posts. Meus últimos dois meses foram intensos em diversos âmbitos da minha vida e cruciais para: fechar gestalts! Para Frederick Perls, fundador da Gestalt Terapia, fechar a gestalt significa tentar harmonizar o campo perceptivo, se interessar não apenas pela figura, mas reparar no fundo também. Na clínica, o termo assume um sentido mais complicado. Para o senso comum, o termo passou a significar chegar a uma conclusão, finalizar uma percepção, terminar um ciclo.

Hoje, chega ao fim um ano de mestrado e caminho em direção ao último. Essa etapa pode estar em chegando ao fim, mas os sonhos... ahhh esses só aumentam! E agora, faltando algumas horas para partir de Coimbra e recomeçar em Barcelona, compartilho com vocês, leitores, uma conclusão que me marcou fortemente após o término deste ciclo: estou aprendendo a amar.

Meus meses em Coimbra e em Barça e minha passagem por Brasília me fazem sentir que entrei em contato com diferentes formas das pessoas cuidarem de mim, gostarem de mim e me amarem e eu também cuido, gosto e amo de formas diferentes. Sinto que ao longo desse ano, experenciei diversas formas de amar em todos os papéis: como filha, amiga, subrinha, prima, irmã adotada, ex-namorada... Mais que aprendi, senti na pele que há diversas formas de se expressar o amor e que é preciso respeitá-los. Tem gente que verbaliza frequentemente, gosta de presentar. Tem aqueles que olham nos olhos sem piscar, outros evitam o olhar. Há quem goste de fazer surpresa, outros enviam um recado com palavras inesquecíveis ou há ainda aqueles que parecem ter medo de abraçar.

Com papai e mamãe, aprendi a expressar melhor o meu amor por eles, apesar de sempre achar que posso fazê-lo mais e melhor. A distância e a consequente imensa saudade nos fazem não apenas dar mais valor a esse amor, mas a valorizá-lo mais constantemente. Ver de forma clara tudo que fazem por mim, o quanto lutaram pra me ver aqui e como se esforçam para que saibamos lidar melhor com as saudades demonstra que o silêncio deles denota uma preocupação com o meu enfrentamento a esse turbilhão de desafios e, o não-dito um dia será por mim percebido... como agora. Não deixa de ser: uma forma de amar.

O fato deles me deixarem ir e reconhecerem a importância de que eu passe tanto tempo com eles como com os meus amigos quando estive em Brasília me mostra que não é fácil cuidar sem controlar, mas que eles saibem muito bem a diferença. Digo muito mais "te amo" que antes e eles também, porém percebi que antes dava muito mais valor ao ouvir esta expressão e hoje valorizo muito mais as pequenas ações do dia-a-dia, que antes nem sequer dava importância... como o meu pai cuidando da minha documentação do master e me levando pra conhecer lugares novos em Brasília ou a minha mãe me ajudando com a análise dos dados da minha pesquisa e fazendo meu café-da-manhã durante esses vinte dias...

Senti também que é possível amar alguém mesmo reconhecendo que o melhor a se fazer agora é se afastar. Amei e amo pessoas com quem estive em pouco contato ao longo desse ano e, juntos, quando nos reencontramos, continuamos a reconhecer que o melhor é seguir em frente, conhecer outras pessoas e amar outras pessoas. Tão paradoxal quanto verdadeiro.

Além disso, quando terminamos um ciclo como a graduação, parece que ficaram milhares de amigos, mas depois de menos de um ano vemos quem verdadeiramente ficou, quem buscou, procurou, se fez presente. Quem são aqueles que me sinto à vontade pra contar o que vivi e senti nesses meses mesmo tendod ficado distante por longos meses e quem são aqueles capazes de reparar em que eu mudei e dividiram isso comigo. As pessoas que me criticam, seja para dizer o bem ou para dizer o que eu fiz de mal, esses sim se preocupam comigo. E se for dito com jeitinho, aí surge a certeza: "Esse aí, é meu amigo!"

Como diz uma música da India Aire, a qual adoro cantar: "The only thing constant in the world is change". E como relembram Bidê ou Balde, música que marcou minha chegada na Europa: "Há sempre amor mesmo que mude". Felizmente, um ano passa, gestalts se fecham, cidades de transformam, mas os verdadeiros amores... ahhh eles ficam pra sempre latentes dentro da gente, independente de haver muito ou pouco contato. E foi na visita a cidade onde comecei a sonhar - Brasília - que reconheci que mudei muito, que as pessoas que amo têm mudado também e que estamos todos nos movimentando e nos amando, das mais variadas formas! Quem viver, sentirá e verá!

"Ela vai mudar
Vai gostar de coisas que ele nunca imaginou
Vai ficar feliz de ver que ele também mudou

É sempre amor mesmo que acabe
Com ela aonde quer que esteja
É sempre amor, mesmo que mude
É sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou"
(Bidê ou balde - Mesmo que mude)

30 de junho de 2009

Valencia con cariño

Fundada por los romanos a orillas del Turia, Valencia exige una visita a fondo. Esta cuidad puramente mediterránea es hospitalaria, abierta, vitalista y dinámica. Conserva un importantísimo patrimonio histórico-artístico y posee igualmente un amplio calendario de fiestas. Pero Valencia apuesta firmemente por su futuro, como lo demuestra la pujanza de su puerto, la modernización de su urbanismo y la vanguardista ciudad de las Artes y las Ciencias.
Situada al sudeste de Valencia, la ciudad de las Artes y las Ciencias es un espacio abierto a la cultura, el ocio y la divulgación científica. De diseño ultramoderno, rozando a futurista, el gran parque que ha situado a la capital levantina en el centro de todas las vanguardias arquitectónicas estás compuesto por cuatro edificios: el Museo de las Ciencias Principe Felipe, L'Hemisféric, el Palau de les Arts, el Palau de les Arts y L'Oceonagrafic y L'Umbracle (vide España de punta a punta - guia que eu peguei emprestado na biblioteca de Gracia).

Desde que eu li no site do Erasmus que a Universidade de Valência era uma das Universidades conveniadas, fiquei a me perguntar: mas o quê que essa cidade tem? Como muitos sonham morar em Paris ou Barcelona, imagino que muita gente não solicitou Valência como uma das cidades pra morar simplesmente porque não sabe responder a essa pergunta. E apesar da minha visita ter sido apenas de sexta a domingo, com muitas análises estatísticas no meio, eu não vi quase nada da cidade, mas do que eu pude reparar, fiquei encantada. A cidade não tem muita gente. E notar isso representa um aspecto muito positivo pra mim hoje. Iniciando meu quarto mês em Barcelona, posso afirmar que morar em uma cidade que ferve de gente é ótimo! Mas cansa. Ademais, Valência tem a parte antiga da cidade preservada e uma parte moderna repleta de azul e verde, crianças brincando e famílias praticando esportes. As obras do arquiteto Santiago Calatrava são de cair o queixo (vide foto ali em cima). Museu, oceanário e cinema em 3D para crianças e adultos são algumas das atrações que elas acolhem. Além do que, Valência é muuuuito mais barata que Barcelona. Olha, em poucas palavras: eu me vi morando nessa cidade.

Como diz o meu amigo ensolarado, a sorte acontece quando a oportunidade se une ao preparo Dessa vez, minha sorte de conhecer Valência se uniu a oportunidade que a minha professora e amiga, Kátia Puente-Palacios, me fez (me enviou um e-mail qndo leu meu post "Luto" e me fez o convite para que eu a visitasse, não é um amor de pessoa? =) ao despreparo com as análises estatísticas da minha dissertação de mestrado. Não que elas sejam difíceis, mas eu realmente precisava de mais segurança pra terminar essas benditas. Além do que, um colo sempre cai bem vai... ;)

Kátia, foi tão bom rever você! Conversar, me abrir, chorar, sorrir. Foi ótimo reaprender algumas coisas - porque com exceção prato de camarão e salmão, as demais você já me tinha me ensinado. E foi especialmente maravilhoso conhecer outra Kátia, além da excelente professora que explica estatística brincando: uma mulher prática e ao mesmo tempo cuidadosa, com a casa, com o marido, comigo! É em mulheres como você que eu me inspiro para alcançar meus sonhos.

Kátia e eu: atualizamos as novas enquanto admirávamos as obras do Calatrava! =)

22 de junho de 2009

Barcelona hasta 2010!

"Temos rotas a seguir
podemos ir daqui pro mundo
mas quero ficar porque
quero mergulhar mais fundo.
Foi o seu olhar
o que me encantou
Quero um pouco mais
desse seu amor" (Seu olhar, Seu Jorge)

Teoricamente, o período na Universidade de acolhimento dura um semestre. Logo, os 34 alunos europeus e não europeus que estiveram morando e estudando em outra cidade do consórcio, voltam para aquela onde começaram os estudos. No meu caso, voltaria a Coimbra. Mas, como Sabrina e eu concordamaos que esses meses não pareciam ser tempo suficiente para olhar e reparar todos os detalhes que ella, Barcelona, tem para esbanjar; e como brasileiro sabe que não custa nada tentar, decidimos solicitar expansão do período de mobilidade.

No segundo semestre de 2010, nem todos vão voltar para suas cidades de origem. Hoje, no dia em que oficialmente recebemos o diploma com as disciplinas que cursamos com os professores convidados aqui na UB este semestre (mesmo sabendo que temos aulas e trabalhos pra entregar até o dia 06 de julho), Sabrina e eu também recebemos a boa notícia: teremos mais um semestre para mergulhar mais fundo na cidade escandalosa. Isso significa que semestre que vem teremos aulas e trabalhos pra fazer em espanhol (e não mais em inglês), significa conhecer mais e melhor ares, sabores e costumes espanhóis e significa também aprofundar aquelas relações que mal começamos...

Queria poder escrever mais sobre todo o processo, os sentimentos que me acompanharam ao pensar no aceite e na rejeição, as conversas de corredor, as torcidas, as discussões e as lágrimas que vieram antes, durante e depois. Mas, meu relógio marca meia-noite e dozenove e amanhã tenho que estar pronta para fazer uma apresentação às 10h da manhã, a qual ainda não se encontra pronta! Só que não podia deixar esse post pra depois porque apesar do sono, do cansaço e das obrigações, eu adoro dividir meus sonhos alcançados com vocês.

Antes de ir, compartilho uma foto que tirei agora há pouco com a coordenadora administrativa do Erasmus na UB, Rocio Meneses, que deu todos os toques para mim e para Sá do que deveríamos fazer para conseguir:
- Rocio, creo que te voy dar las gracias por un largo tiempo...

15 de junho de 2009

Manos de Topo

Já que quem canta, seus males espanta... música pra animar, vale?! =)

No final de semana passado fui assitir a banda Manos de Topo cujo baterista chama-se Rafael de los Arcos. Este show contou com a participação especial da violonista Sara Pérez. Então, eu não podia perder né? Fui prestigiar o casal de galegos da cidade de Vigo con quién comparto el piso (além da querida Nat, que vocês já conhecem). Então, não deixem de conferir as fotos do show que aconteceu em uma super casa de espetáculos em Barcelona: L'Auditori. Claro que de longe, com uma máquina fajuta (porque minha antiga quebrou e comprei uma baratinha) e uma fotógrafa que só tem vontade de ser boa um dia, as fotos não ficaram boas. Mas, para não ser viagem perdida, também coloquei as fotos do gato guapíssssimo que adora me fazer companhia quando estou estudando. ;)

Sobre a banda do Rafa, teve um dia que cheguei em casa e a Nat e a Sara estavam na sala lendo o jornal juntas, concentradas. Claro que eu fiquei curiosa e perguntei, "k se pasa, chicas? k están leyendo aíii?" (sintam meu tom coloquial já adicionada até a forma de escrever! jajajaja =) E a Sara me contou que a banda do Rafa tinha saído na capa da sessão cultura do jornal El Mundo descrita como uma das novas tendências da música pop espanhola. Esses dias eles também saíram no jornal Público. Ou seja, não é por nada não, mas aqui em Barcelona, Manos de Topo é uma big band! E o sucesso está só começando... eles acabaram de lançar o segundo CD, que se chama: El primero era mejor. A banda é mesmo muito boa, as letras falam de desilusión amorosa num tom de brincadeira, o mejor, de broma. E, o que no início pode soar estranho ou até... desagradável, torna-se o diferencial da banda: a voz do vocalista. Achei que não iria me acostumar, mas agora que virei fã da banda... tô curtindo os clips! =D Aliás, confiram os excelentes clips de El Cartero y Es feo.

Aguardo comentários, ok? =)

8 de junho de 2009

Luto

"Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre?
Sem saber, que o pra sempre sempre acaba..."

Depois de um final de maio tão bom, junho chega pra machucar, pra ensinar e pra ficar na história. Já tinha um tempo que eu estava pensando em escrever sobre outra Juliana: aquela que sofre, que perde, que tem medo; e sobre outra Barcelona: aquela que fede, que transborda de gente, que dá medo. Ainda não esqueci deste post, mas devido ao que aconteceu nos últimos dias, outro, tão triste quanto, teve que ocupar o seu lugar.

No primeiro dia do mês de junho, soube que a minha xará, cantora, 29 anos, que estava de férias em Brasília com a família, e que é irmã de um amigo do segundo grau (Luís), estava no vôo 447 da Air France, em direção a Alemanha. De fato, há muito tempo não conversava com ele, mas tenho muitas lembranças das conversas que tivemos no ônibus de volta pra casa, bem como memórias dele falando sobre ela: "Você vai se amarrar nas músicas da minha irmã, Juu!!!" E eu me lembro quando comprei o primeiro cd... Neste dia, foi difícil me concentrar, foi difícil dormir, foi difícil saber o que fazer.

Então, na terça, depois do almoço, ainda pra baixo, aproveitei pra checar meu e-mail antigo, aquele que a gente esquece de abrir e havia uma curta mensagem de um amigo que se lembrou de me comunicar: "Bruno Buckvic cumpriu sua missão neste planeta. Abriu o coração de todos a sua volta antes de partir... Que esse amor vibre e transborde dentro de nós! Obrigado, Bruno!" Apesar de otimista, a mensagem me deixou mais perdida, mais triste, mais impotente e com muita vontade de estar perto daqueles que eu sabia que estavam precisando de um forte abraço. Apesar de também não ter tido muito contato com o Bruno após o segundo grau, são muitas as memórias que guardo das conversas com o Mindu (irmão da Ju) e com o Bibi , que "voltavam comigo pra casa" quase todos os dias.

Como todas as decisões que enfrentamos ao longo da vida, decidir viver longe da família e dos amigos traz sempre uma porção de dúvidas. Pra mim, sem sombra de dúvida, aquela que mais me amedronta é passar longe de você, amiga, amigo, um momento difícil, seja ele qual for. Engraçado que não me preocupo muito se eu precisar de um colo, se eu ficar doente, se eu partir... mas tenho muito medo disso acontecer com você e eu não puder estar presente. Essa onda de dor, medo e insegurança que o início do mês de junho carregou me despertou uma enorme vontade de dizer pra você: não deixe para daqui a pouco o que você quer fazer agora. Aproveitemos cada dia como se fosse o último. A gente sabe disso, mas é sempre bom relembrar.

Como amiga e psicóloga, relembro também aos meus amigos que estão de luto que o sintam na sua plenitude e descubram a forma como preferem experenciá-lo. Engana-se quem crê que aquele que está de luto chora sem parar e precisa estar entre amigos. Alguns sim, mas outros ficam mudos e preferem passar alguns dias longe das pessoas. Como defensora de que a terapia nada mais é que uma entre diversas formas que temos de nos auto-conhecer, sugiro que todos nós procuremos ajuda psicológica para se conhecer e reconhecer de que forma preferimos sentir essa perda e aprender a lidar com ela. Fugir ou evitar o luto não diminuirá a dor e não fará com que esqueçamos o que aconteceu.

E como infelizmente qualquer um de nós pode ser alvo de uma tragédia como essa, confesso que eu me imaginei muitas vezes como a Juliana que mora na Europa e foi a Brasília passar uns dias com a família; aliás, é isso que eu farei em agosto próximo, e fiquei com vontade de expressar que, se um dia eu partir antes do esperado, saiba que "voltei pra casa" feliz. E que se não for possível alcançar todos os meus sonhos, assim como a Juliana Aquino e o Bruno Bukvic, alcancei todos os que pude e os vivi intensamente. E não é isso que importa?

Envio, por meio desta tela fria, um caloroso abraço a todos aqueles que ficaram tristes com a partida da Juliana, do Bruno ou de qualquer pessoa que se foi e que faz falta... Transmito o meu desejo de que enfrentem esse momento com muita garra e que se permitam o tempo que for necessário para se reerguer. Peço aos meus outros amigos que estão em Brasília que abracem você por mim e compartilho minhas lágrimas como expressão do carinho que sinto por vocês! Por mais cruel, inacreditável e inexplicável que sejam essas tragédias que temos visto pelo mundo, jamais podemos esquecer que "nada vai conseguir mudar o que ficou". Eu acredito nisso...

24 de maio de 2009

A sumida se achou!

Nossa, há quanto tempo não apareço por aqui. Não, não vou vir com a desculpa que é falta de tempo porque quando queremos fazer alguma coisa, fazemos e ponto. Encontramos o tempo que for preciso, priorizamos, custe o que custar! Por isso, saibam que não sumi por mal, ok? E que eu simplesmente nunca me senti tão bem. Sabe quando as coisas começam a fazer sentido? E aquela perda se encaixa em um delicioso encontro? E você se dá conta que não sabia que a vida podia ser ainda melhor?

Nao tem jeito. Morar fora, conhecer pessoas de culturas e lugares diferentes, sentir-se só é a melhor forma de conhecer a si mesmo. Meus primeiros meses em Barcelona confirmaram com todas as letras o que eu já sabia: sou transparente como as cachoeiras do cerrado e como os mares de Cadaqués. Não consigo esconder o que penso, nem o que sinto. Só que eu achava que deveria mudar um pouco isso. Com tanta porta na cara nos meses passados, achava que tinha aprendido que estava na hora de guardar e aguardar por certas coisas na vida. Mas aí vem a Espanha e me diz: mira chica, hay un lugar en el mundo en que puede ser usted, como és, como queiras! Pois se a Juliana Fernández estava sumida, na verdade acho que ela nunca havia se conhecido e agora se achou!

Em Barcelona, não há regras. Quando perguntei a espanhola que mora comigo assim que cheguei "Então, Sara, como é que funciona o cuidado com a casa, a limpeza e essas coisas?" Ela me respondeu assertiva: "É assim, Juliana, qndo você sentir que está sujo, limpa. Parte do seu bom senso e da sua vontade. Não sou ninguém pra dizer o que você deve fazer ou deixar de fazer e também não impomos regras nem horários, a rotina já nos impõe demasiado deles". Em Barcelona, faz-moda e não existe certo e errado quando o assunto é: como vou cobrir o meu corpo hoje? E até hoje me arrependo de não estar com a máquina fotográfica no dia que vi uma senhora de sapatos roxos, saia laranja, óculos de armação verde e cabelos.. vermelhos! Curtinhos e bem pentados. Charmosa que só ela! Eu nunca tinha visto jaqueta de plástico, vestido de papel, saias estampadas com galinhas que custam 70€ e as jovens se desesperam pra comprar (vide loja Desigual). Eu nunca tinha visto tanta mulher de topless na praia, ou, no terraço da academia de ginástica, por que não?! Em Barcelona, sabe-se aproveitar o dia. Acorda-se por volta das 9h, y despues del desayuno a las 10, a parada pro almoço é das 14 às 16h. E a parada é assunto sério. Confesso que nunca vi ninguém dormindo em cima das mesas, mas com exceção dos restaurantes e de algumas farmácias, todo o resto, eu disse, todo o resto.. fecha! E aos domingos, nem os restaurantes salvam (alguns abrem). Então, há gente que diz: "God, bless the chinese!" porque são os únicos que abrem suas tiendas no primeiro dia da semana. Quem não se programou pra fazer compras nos outros dias, vai ter que pagar mais caro no mercadinho do chinês da esquina (ou no paquistanês).

Olha, então, se eu demorar pra postar de novo, é porque devo estar na internet a procura de bolsas para o doutorado. Ou estou escrevendo minha dissertação de mestrado, Ou tô ali fazendo yoga aqui na academia ao lado. Mas posso estar também no Cine Verdi, no bar do teatro (Teatreneu), na exposição do Sorolla (virei fã e ganhei 3 pôsters! =), ou assistindo o jogo do Barça (quarta agora? a galera já marcou o bar a partir das 19:30). Pode ser também que esteja recebendo visitas ou acertando os planos das viagens para julho. Na verdade, é muito provável que esteja fazendo tudo isso junto com gosto de Colômbia, y con mucho gusto, diga-se de passagem (?!) ou então estou descansando pelas praias da Catalunya... como eu fiz hoje o dia inteiro...


Da cor da areia, mas isso é só uma questão de tempo =)

16 de abril de 2009

Viviendo todos los instantes

Manhã de terça-feira, estava eu sentada no chão do gabinete da minha orientadora entre un monton de artigos, livros, anais de Congressos, dissertações e teses buscando mais referências para enriquecer a minha revisão da literatura. Até que me surge uma literatura que me encanta!

Instantes (Nadine Stair)

Si pudiera vivir nuevamente mi vida,
En la próxima trataría de cometer más errores.
No intentaría ser tan perfecto, me relajaría más.
Sería más tonto de lo que he sido, de hecho
tomaría muy pocas cosas con seriedad.
Sería menos higiénico.
Correría más riesgos, haría más viajes, contemplaría
más atardeceres, subiría más montañas, nadaría más ríos.

Iría a más lugares adonde nunca he ido, comería
más helados y menos habas, tendría más problemas reales y menos imaginarios.
Yo fui una de esas personas que vivió sensata y prolíficamente
cada minuto de su vida; claro que tuve momentos de alegría.
Pero si pudiera volver atrás trataría de tener solamente buenos momentos.
Por si no lo saben, de eso está hecha la vida, sólo de momentos;
no te pierdas el ahora.

Yo era uno de esos que nunca iban a ninguna parte sin termómetro,
una bolsa de agua caliente, un paraguas y un paracaídas;
Si pudiera volver a vivir, viajaría más liviano.
Si pudiera volver a vivir comenzaría a andar descalzo a principios
de la primavera y seguiría así hasta concluir el otoño.
Daría más vueltas en calesita, contemplaría más amaneceres
y jugaría con más niños, si tuviera otra vez la vida por delante.
Pero ya tengo 85 años y sé que me estoy muriendo.

Decidi que o poema entra na minha dissertação, só que entre os capítulos. Para contrapor os textos escritos com tamanha racionalidade, para levar um pouco de emoção ao meu futuro leitor e para expressar o quanto a iniciante pesquisadora tem aprendido e posto em prática ao ler sobre o processo de envelhecer...

7 de abril de 2009

Feijoada completa

Eu estava esperando passar os meus 24 anos em Barcelona. Mas pra passagem ser completa, tinha que ter feijoada, sol à vista, caipirinha, muito samba e pessoas especiais. Ah mas só? Era um sonho, neles entram tudo, fazer o quê? Entra a cidade nova e os prazeres antigos, não dá pra ser? Bem, na época mesmo não deu não. O Edu, meu amigo português do master, desde já, quando comecei a perguntar sobre casas de samba em Barcelona, me advertiu: “- Ô Ju, mas você acha que a francesa, a canadense e a nossa colega da Moldávia vão gostar de ir pra um samba???” Tá bem, Edu, sei que você odeia samba e concordo contigo que é bom pensar nos convidados quando a heterogeneidade é significativa e muito bem-vinda. No final, o que importa é que comemorei duplamente e estive em contato com as pessoas mais especiais de muito e de pouco tempo.

Até que, quando eu menos esperava, na semana em que uma almejada viagem havia sido cancelada - por razões não muito bem divulgadas, é verdade - minha amiga brasileira Sabrina me disse que iria rolar feijoada com samba e caipirinha na casa dela no final-de-semana!!! Já me prontifiquei a ajudar no preparo mas a Sá disse: “Ju, fica tranquila que no sábado a gente toma conta do samba. Quem vai pra cozinha dessa vez é o Mateus!”

Um pouco atrasadas devido a troca de chaves das visitas que tinha em casa, Liça e eu chegamos por volta das 16h no evento. Espanha, Brasil, França, Canadá e Venezuela representavam a amostra daquela turma que tomava cerveja e conversava sobre esterótipos, papo típico quando a turma é internacional. Depois que passamos pra caipirinha o tema mudou eu não me lembro bem porquê. O assunto da vez era grafologia. Um espanhol amigo do Mateus tinha feito um curso nessa área e começou a explicar que as pessoas que escrevem ocupando mais a parte superior das linhas são mais sonhadoras, vivem no mundo da lua e mais planejam do que concretizam. Já aquelas que dão mais peso às letras abaixo das linhas são tão proativas que mal sabem o que é esperar. Existem ainda os mais comedidos, que encontram um equilíbrio, e ainda aqueles que exageram tanto nas letras acima quanto naquelas abaixo da linha. Eu fiquei discreta, rindo baixinho porque tenho um blog de sonhadora mas as pernas dos meus “J”s e“G”s costumam alcançar 2 ou até 3 linhas láaaa de baixo… Será que isso quer dizer mesmo alguma coisa?

A conversa ao longo daquela deliciosa tarde de sábado me fez lembrar não apenas de Feijoada completa. Chico, desculpe, eu sei que estava a criticar a forma passiva como aquele pedreiro levava a vida e eu também discordo, lembra do meu primeiro post do ano? Mas é que a menina das letras de longas pernas não quer fazer planos nem a curto nem a longo prazo. A cidade escandalosa que não pára tem me ensinado tanto a esperar... E eu ando penseira como nunca... Não sei se é por causa da saudade de esperar o sol, o trem, o carnaval ou o mês que vem...

O convite a feijux foram preparados pelo Mateus. Ambos ficaram ótimos!