15 de maio de 2010

Novidades básicas

Os últimos dois meses foram marcados por muitos acontecimentos. Assim que o curso de inverno terminou, eu e mais 4 brasileiros de diferentes regiões do país fomos até Santiago de Compostela de carro, um daqueles convites irrecusáveis que surgem quando você menos espera, sabe? Num dia de estudos como outro qualquer, a Sabrina chega perto de mim e comenta "- Vou passar 3 dias em Compostela com três amigos, tem 1 vaga no carro, quer vir?" Que bom que eu podia dizer sim! Rever este encanto de cidade com calma foi maravilhoso, melhor que isso foi viajar de carro. Admirando paisagens belíssimas, com direito a parada em Viana do Castelo, em Portugal, os 5 brasileiros cantaloravam músicas do Chico, Betânia, Jorge Ben, Arnaldo Antunes, Elza Soares, Alçeu Valença. E as duas principais conclusões da minha segunda visita a Santiago foram: preciso viajar mais de carro e preciso fazer o caminho a Compostela a pé. Descobri que há vários caminhos e um deles inclui passagens pelo campo e pela praia. Alguém me acompanha?

Daí veio a última disciplina do mestrado, que foi ministrada por uma brasileira, Prof. Mirlene Siqueira, da Universidade Metodista de São Paulo. E fui sentindo aos poucos que voltar a Portugal me deixou com mais saudades do Brasil... saudades que eu não senti quando cheguei em Setembro de 2008. De novo mais perto das amigas brasileiras, de novo escutando e falando português todos os dias, daí vieram as aulas da professora que fez doutorado na UnB, que comenta dos nossos Congressos, da nossa cultura, e chega pra mostrar que a gente também faz e faz bem feito. Ai ai...saudade. Mas já que não dava pra ir ao Brasil, fui a Itália. E logo que a disciplina terminou, lá estava eu de malas prontas. Merecidos seis dias em Roma com direito a participação em Congresso, apresentação de trabalho e um reencontro mais tranquilo e caloroso com a capital italiana. Outra sensação indescritivelmente boa é poder passar sem pressa por lugares já antes visitados durante a primavera quando se lembra do frio, da correria e do hostel fedorento que eu fiquei quando fui pela primeira vez... era outra Roma pra mim, e eu me senti outra nela também.

Cheguei de Roma e fui refazer a mala. E as roupas que sairam da bagagem não foram pro armário, mas para outra mala. Eu tinha dois dias para deixar tudo pronto para que o caminhão que iria levar a mudança dos meus amigos a Lisboa, fizesse a gentileza de deixar minhas roupas, livros, sapatos, aquecedor, lençol, travesseiro, e o Manuel no meio do caminho. Acho que vou sugerir ao Peiró, coordenador do Programa deste Mestrado, para escrever no site que entre as competências desenvolvidas ao longo do curso está o desapego. Ficou faltando essa. Em Coimbra, Barcelona e Pequim, pra levar um livro, um presente ou um casaco novo, teve que ficar a calça confortável (já rasgada, coitada!), as botas que me suportaram por tantos meses, o casaco que marcou aquela viagem... até aí, sem problemas. Nada disso que eu deixei eu sinto falta, na verdade. Até me esqueço do que ficou pra trás. O problema mesmo é deixar as pessoas. Não importa quantas vezes a experimentamos, parece que nunca aprendemos. Eu até sinto que tenho melhorado, consigo focalizar mais nos fantásticos momentos vividos e partir pra viver outros! Mas as lágrimas continuam a me escapar na despedida. A diferença é que agora eu espero a pessoa ir embora.

A chegada em Leiria foi marcada por sorte. Achei lugar pra morar rápido, com direito a apartamento bem equipado e cozinheiro de primeira. Essa história pra lá de engraçada vocês já sabem. Meu compañero de piso é solidário e divertido. Quando há tempo pra aprender a cozinhar, conhecer as cidades ao redor, visitar as amigas em Lisboa (fim de semana que vem tem Rock in Rio!!!), tá tudo ótimo, como mostram as fotos. Mas não há fotos dos momentos cansativos de excesso trabalho, das dificuldades encontradas no caminho, dos momentos sem companhia pra comentar como foi o dia, pra jantar ou fazer um passeio. No dia-a-dia não é tudo oba-oba. Também não posso reclamar porque eu quis morar numa cidade onde não conheço ninguém (hoje já tenho 2 colegas pra passear por aqui! =). É que a solidão aqui bate diferente que em Barcelona. Lá poderia não ter sempre uma companhia pros concertos, exposições e viagens que eu queria fazer, mas bom programa pra fazer sempre tem. Aqui, já não há companhia com frequência. E às vezes nem programa tem. Engraçado olhar pra trás e dizer: "Pô, enfrentar aquela solidão era fichinha né?" É, agora é mesmo. Os graus de dificuldades vão aumentando e nós vamos crescendo com eles. Então, as últimas semanas foram basicamente de muito trabalho no estágio e na dissertação, não havia mais tempo para mais nada além disso. Senti que os meus prazeres foram reduzidos a suprir minhas necessidades básicas. Dormir, tomar banho, comer e ir ao banheiro representavam as minhas pausas e as minhas delícias enquanto finalizava o próximo prazo, trabalhava de segunda a sexta e lia e escrevia de segunda a segunda.

Mas neste exato momento faltam apenas 5 diazinhos pra enviar a minha filha, vulgo dissertação, aos arguentes da banca. E pra recarregar as energias hoje eu fiz uma pausa diferente. Fui conhecer o famoso medieval Castelo de Leiria, erguido no cimo de um penhasco que o faz ser visto de muitos pontos da cidade. E lá eu descobri que caminhar, enxergar e respirar é incrivelmente bom! E ao que tudo indica eu não preciso de muito mais que o básico pra ser feliz...