8 de junho de 2009

Luto

"Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre?
Sem saber, que o pra sempre sempre acaba..."

Depois de um final de maio tão bom, junho chega pra machucar, pra ensinar e pra ficar na história. Já tinha um tempo que eu estava pensando em escrever sobre outra Juliana: aquela que sofre, que perde, que tem medo; e sobre outra Barcelona: aquela que fede, que transborda de gente, que dá medo. Ainda não esqueci deste post, mas devido ao que aconteceu nos últimos dias, outro, tão triste quanto, teve que ocupar o seu lugar.

No primeiro dia do mês de junho, soube que a minha xará, cantora, 29 anos, que estava de férias em Brasília com a família, e que é irmã de um amigo do segundo grau (Luís), estava no vôo 447 da Air France, em direção a Alemanha. De fato, há muito tempo não conversava com ele, mas tenho muitas lembranças das conversas que tivemos no ônibus de volta pra casa, bem como memórias dele falando sobre ela: "Você vai se amarrar nas músicas da minha irmã, Juu!!!" E eu me lembro quando comprei o primeiro cd... Neste dia, foi difícil me concentrar, foi difícil dormir, foi difícil saber o que fazer.

Então, na terça, depois do almoço, ainda pra baixo, aproveitei pra checar meu e-mail antigo, aquele que a gente esquece de abrir e havia uma curta mensagem de um amigo que se lembrou de me comunicar: "Bruno Buckvic cumpriu sua missão neste planeta. Abriu o coração de todos a sua volta antes de partir... Que esse amor vibre e transborde dentro de nós! Obrigado, Bruno!" Apesar de otimista, a mensagem me deixou mais perdida, mais triste, mais impotente e com muita vontade de estar perto daqueles que eu sabia que estavam precisando de um forte abraço. Apesar de também não ter tido muito contato com o Bruno após o segundo grau, são muitas as memórias que guardo das conversas com o Mindu (irmão da Ju) e com o Bibi , que "voltavam comigo pra casa" quase todos os dias.

Como todas as decisões que enfrentamos ao longo da vida, decidir viver longe da família e dos amigos traz sempre uma porção de dúvidas. Pra mim, sem sombra de dúvida, aquela que mais me amedronta é passar longe de você, amiga, amigo, um momento difícil, seja ele qual for. Engraçado que não me preocupo muito se eu precisar de um colo, se eu ficar doente, se eu partir... mas tenho muito medo disso acontecer com você e eu não puder estar presente. Essa onda de dor, medo e insegurança que o início do mês de junho carregou me despertou uma enorme vontade de dizer pra você: não deixe para daqui a pouco o que você quer fazer agora. Aproveitemos cada dia como se fosse o último. A gente sabe disso, mas é sempre bom relembrar.

Como amiga e psicóloga, relembro também aos meus amigos que estão de luto que o sintam na sua plenitude e descubram a forma como preferem experenciá-lo. Engana-se quem crê que aquele que está de luto chora sem parar e precisa estar entre amigos. Alguns sim, mas outros ficam mudos e preferem passar alguns dias longe das pessoas. Como defensora de que a terapia nada mais é que uma entre diversas formas que temos de nos auto-conhecer, sugiro que todos nós procuremos ajuda psicológica para se conhecer e reconhecer de que forma preferimos sentir essa perda e aprender a lidar com ela. Fugir ou evitar o luto não diminuirá a dor e não fará com que esqueçamos o que aconteceu.

E como infelizmente qualquer um de nós pode ser alvo de uma tragédia como essa, confesso que eu me imaginei muitas vezes como a Juliana que mora na Europa e foi a Brasília passar uns dias com a família; aliás, é isso que eu farei em agosto próximo, e fiquei com vontade de expressar que, se um dia eu partir antes do esperado, saiba que "voltei pra casa" feliz. E que se não for possível alcançar todos os meus sonhos, assim como a Juliana Aquino e o Bruno Bukvic, alcancei todos os que pude e os vivi intensamente. E não é isso que importa?

Envio, por meio desta tela fria, um caloroso abraço a todos aqueles que ficaram tristes com a partida da Juliana, do Bruno ou de qualquer pessoa que se foi e que faz falta... Transmito o meu desejo de que enfrentem esse momento com muita garra e que se permitam o tempo que for necessário para se reerguer. Peço aos meus outros amigos que estão em Brasília que abracem você por mim e compartilho minhas lágrimas como expressão do carinho que sinto por vocês! Por mais cruel, inacreditável e inexplicável que sejam essas tragédias que temos visto pelo mundo, jamais podemos esquecer que "nada vai conseguir mudar o que ficou". Eu acredito nisso...