28 de setembro de 2008

Mamãe já dizia... "Recria, recomeça"


Uma semana de aulas. Um mês de Coimbra. Sete disciplinas mais a orientação para a dissertação. Aula de segunda a sexta. Algumas impressões sobre os costumes culturais dos portugueses. Documentos para regularizar, compras pra fazer, banheiro pra lavar, roupas pra passar. Um sonho sendo realizado...

Nesses poucos dias pude peceber que, em termos de conteúdo e até de método, nada do que vi e verei é novo neste mestrado. Claro que vamos aprofundar em alguns assuntos, mas a base é a mesma. O que é bom porque pode ser que seja mais fácil pra mim. Melhor ainda foi o orgulho que eu senti do mestrado da minha Universidade de Brasília. O nosso Departamento de Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações não está atrás do primeiro mundo (e eu generalizo sim porque as disciplinas, os métodos cobrados e as referências para as 5 Universidades são padronizadas na medida do possível).

Me dei conta disto na quarta-feira passada à tarde, quando estava a ouvir uma professora falando com um português de Portugal corrido, e eu tendo que me esforçar pra entender, pensando nas panelas que estavam à minha espera depois de uma macarronada que ficou cozida demais, que eu e a Cary fizemos na noite anterior (e eu morrendo de vontade de comer a macarronada de atum e alcaparras do papai, sempre 'al dente').

Se a minha vida era mais confortável em Brasília, se eu estava do lado das pessoas que amo, se a qualidade do mestrado é a mesma, se há mais atrações culturais na minha cidade do que em Coimbra, o que vim eu fazer aqui?! Sentir saudades da família e dos amigos aos domingos à noite enquanto passo roupas em frente às telenovelas brasileiras (eles adoram)?!

Tudo por causa da novidade. Vai fazer um mês que estou aqui, mas parece que já faz uns 3 meses. A quantidade de pessoas que conheci, lugares que vi, sentimentos que experimentei, doces diferentes que comi, produtos de limpeza e lençóis e pães que tive que escolher, cadeiras que montei, manuais da lavadora de roupa e louça que li, tradições que ouvi, livros que encontrei, costumes que compartilhei e histórias do meu país e daqui que relembrei...

O que todos dizem é que logo logo esse meu encantamento vai passar...

Ah é?! Então, mudarei o caminho à Universidade, trocarei de esporte, farei optativas diferentes, frequentarei outro café, comprarei um novo livro, pegarei um trem no dia de domingo para uma cidade desconhecida...

Vou viver como a Cora Coralina e a minha mãe me ensinaram:

"Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha um poema.
E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte.
Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede."
Cora Coralina (1981)

Mãe, esse poema me lembra nossas viagens à Piri e aquela à Goiás Velho!

Semana que vem é aniversário da minha mãe. E tudo o que mais queria era passar o dia com ela....

"- Mãe, não vai dar, mas levo você e seu modo de viver sempre comigo. Recriarei a minha vida sempre, sempre...!"