4 de agosto de 2008

Todo dia é dia!

Encontro-me num momento em que agradecer às pessoas pela conquista a qual vou desfrutar daqui a exatamente 1 mês é muito importante pra mim. Espero, nos próximos posts, falar um pouco sobre o que aprendi com você, leitor-amigo. Hoje, é dia de falar sobre uma das lições que os meus pais, meus eternos amigos-heróis, deixaram pra mim.
Lembro como se fosse hoje de um papo que rolava geralmente por volta da quinta, sexta-feira quando eu estava lá pela oitava série: "-Ai caramba, papai disse que se eu não tirar 8 na prova de matemática, não vou poder ir na festinha da Lu no sábado" - dizia uma colega minha. E a outra, angustiada: "-Sério?! Só 8? Minha mãe quer ver meu boletim e disse que vai tirar minha mesada se eu não estiver com tudo acima de 9". Achava estranho esses comentários, mas ficava sem graça de perguntar o motivo pelo qual os pais delas diziam isso... meus pais nunca tinham dito aquilo pra mim, e eu também ficava sem entender porquê.
Mamãe sempre foi muito animada e sempre teve muitas amigas. Lembro de uma época que ela costumava dançar todas as quintas-feiras. E domingo no final da tarde? Pode ter certeza: ela foi ao cinema. Mas também é super comum vê-la trabalhar aos sábados (o dia todo) e, em alguns finais-de-semana ela não para! Passa o dia batendo perna: da academia pro salão, do salão pro almoço com a tia, do almoço com a tia pra feira, da feira pra casa, da casa pro barzinho com as amigas! Quando me via muitas horas sentada na escrivaninha, ela já gritava: "Julianaaa, sai daí um pouco, minha filha! Vai fazer o que hoje? Olha, tem uma peça de teatro na Caixa que está fantástica!".
Já papai sempre foi mais caseiro. Não conheço ninguém no mundo que lê tanto como ele. Literatura, história, direito, principalmente. Mas papai lê de tudo (que considera de qualidade) e a Folha? Todos os dias. Ele adora encontrar os amigos e, pra isso, não há dia definido: qualquer dia da semana à noite ele se reúne com o pessoal do Debater na casa dele (uma ONG que recruta professores para dar aulas pré-vestibular numa cidade satélite no DF de modo que o objetivo é tentar ajudar àqueles que não tiveram condições de estudar num colégio particular a entrar na Universidade pública). Ah, ele também faz parte de um grupo de leitura que costuma almoçar junto pra discutir um livro que todos leram no prazo de um mês. Quando esse encontro acontece? Geralmente às sextas, mas pode ser que seja outro dia. Caminhar no parque é uma atividade que o papai faz com frequência e com prazer, no dia que der tempo. E além de trabalhar de segunda à sexta, pode ser que precise trabalhar sábado e domingo, também.
Observava, desde pequena, na casa de alguns colegas, que trabalho e lazer eram vistos como trabalho versus lazer e, assim, encontravam-se em mundos, pólos e lugares diferentes, de modo que primeiro deveria vir o trabalho, a obrigação (e a fala já carregava o peso da origem do termo "trabalho": tripalium - instrumento em forma de tripé que era utilizado para torturar as pessoas) e só depoooois, como uma espécie de recompensa, viria o prazer. Ué? Mas, calma aí? Trabalhar não pode ser divertido? Lá em casa, trabalho e lazer sempre se misturaram, se confundem e andam juntos. Prova de literatura? "-Não, filha, não precisa pegar o livro da escola não, olha só aqui essa música do Chico: 'Pedro, pedreiro, penseiro esperando o trem' é uma figura de linguagem chamada aliteração em que se repete consoantes, vogais ou sílabas num só verso." E a gente jantava e tentava encontrar isso em outras músicas... nunca esqueci!!!
Hoje em dia, vivo com esse lema: todo dia é dia! Tomar sorvete de frutas vermelhas e nutella na Sorbê às terças é muito mais gostoso que aos sábados. Eu digo e repito isso, mas ninguém acredita! =) Ir ao clube às sextas-de-manhã é melhor que aos domingos porque dá pra ver os micos leões-dourados de um lado pro outro. Todo dia é dia de começar um bom livro, de olhar pela janela do quarto, andar de patins, aprender uma nova língua, comer bem e d e m o r a a a d a m e n t e, reunir os amigos, ir ao mercado buscar a fruta da estação, conhecer um novo café, ouvir aquela música, de trabalhar durante horas naquele projeto, rir de si mesmo e, em tudo isso: aprender, estudar, ensinar...
Meus pais me mostraram que a vida só tem sentido quando a gente ama o que faz. E, vivendo assim, cada ação é capaz de trazer alegria, cada gesto tem seu valor e cada vitória pode acontecer a qualquer momento, em qualquer dia. Pai, mãe: obrigada! Amo vocês todos os dias, dia após dia, cada dia mais e mais.