21 de novembro de 2008

Você também vai passar por isso.

The entire world is facing an expressive demographic change: the number of young people is decreasing and the number of older people, increasing. As more and more individuals retire and as their healthy longevity increases, there is also more interest on studying the factors that predict quality of life in later retirement (Gall & Evans, 2000). Some research findings indicate that individuals are responsible for their success or failure in retirement and, consequently, responsible for their own planning. Meanwhile, other studies support that organizations should enable individuals to identify and fulfill their expectations for retirement and offer them a retirement planning (Maddox, 2005). Thus, to face this social and economic context, organizations of the XXI century have to develop practices and policies focused on two main actions. Firstly, maintain and improve employees’ health to keep them longer in the work process and best make good use of their potential. Besides that, they should provide an early planning to all workers in order to make the transition to retirement a “process” and not a “rupture”. However, before planning a retirement program, counselors should attend to worker’s expectations of the future that may serve as a point of departure to help the individual to cope with the eventual difficulties of the transition (Nuttman-Shwartz, 2004). Moreover, given the importance that the work takes in contemporary society, the assessment of the perceptions and feelings associated with personal and professional life as well as the possible reasons of retirement (professional stress, external pressures, personal interests, unforeseen circumstances) allows to understand better how the transition to retirement occurs between different people (Floyd, Haynes, Doll, Winemiller, Lemsky, Burgy, Werle & Heilman, 1992).

Crescer, iniciar um novo ciclo de vida, começar um novo trabalho, morar em uma nova cidade, vivenciar um novo amor. Envelhecer, fechar uma etapa da vida, sair do trabalho (seja por vontade própria, seja por vontade de outrem), despedir-se de uma cidade, perder um amor. Cada um de nós enfrenta ou enfrentará um dia uma ou algumas dessas voltas que o mundo dá.

No último ano da minha graduação, eu disse a mim mesma que precisava enfrentar um novo ciclo antes de concluir o meu curso: precisava ter uma experiência prática na área clínica. E foi no grupo da Prof. Inês Gandolfo que me foi dada a oportunidade de atender um grupo de mulheres entre 50 e 65 anos com base na abordagem humanista denominada Psicodrama. As temáticas que apareciam nas sessões eram bastante diversificadas. As corajosas mulheres que lá estavam, pagando um valor simbólico pela necessidade de sentirem melhores ao longo do tempo reportavam insegurança, medo e ansiedade quando se referiam à síndrome do ninho vazio (sentimento de enorme vazio emocional com a saída dos filhos de casa), ao luto (algumas delas eram viúvas e começavam a vivenciar a perda de pessoas conhecidas), à solidão, à dificuldade de manter fortes laços de amizade e de ter um relacionamento íntimo. Outro assunto que discutíamos muito era a saída delas do mundo do trabalho. A perda de um papel e os efeitos que essa perda representariam em suas vidas eram encaradas de diferentes formas: algumas diziam que estavam sonhando com a chegada do dia em que poderiam ter o tempo livre pra fazer o que bem quisessem. Outras, expressavam que se sentiriam extremamente perdidas caso não pudessem mais voltar ao trabalho e que, além do emprego, perderiam amigos, hábitos, costumes...

A decisão sobre qual seria o tema da minha investigação começou a tomar forma no dia 10 de Outubro deste ano e a decisão aconteceu no dia 23. No dia 10, eu tive minha primeira aula de Qualidade de Vida no Trabalho com a professora Margarida Pedroso Lima. Ela se apresentou e disse que pertence aqui ao que corresponde ao Departamento de Psicologia Clínica na UnB. Contou-nos que possui formação em Gestalt terapia e Psicodrama e que foi convidada para ministrar a disciplina e ser uma das orientadoras para o nosso mestrado. Ela explicou que, apesar de não ter formação em Psicologia Organizacional, atua como consultora na área de Saúde no Trabalho há muitos anos. O tema que ela propõe para investigação é a 'reforma' (
'reforma' denota, para o português de Portugal, 'aposentadoria', termo que se assemelha aos seus correspondentes em inglês: 'retirement' e francês: 'retraite'). E eu já havia pensado em escrever sobre este tema no meu mestrado caso tivesse ficado em Brasília. Já havia conversado com o professor e amigo Mário César Ferreira, que me atentou para a relevância deste tema na atualidade. Não preciso dizer que a minha identificação com a Professora Margarida e com o tema que ela propôs foram imediatas, né?

Ao começarmos a conversar sobre a definição do projeto, sugeri se não poderíamos construir um Programa de Preparação para a Aposentadoria já que sei que há poucas instituições que adotam esses Programas, mas que em termos de planejamento de carreira, eles são fundamentais. A resposta da Margarida foi a seguinte: “Vocês pode fazer isso no doutorado. O tempo o qual você dispõe não é suficiente para fazer isso. Eu sugiro que você comece com a realização de um diagnóstico sobre quais fatores pessoais e organizacionais influenciam na decisão do indivíduo em se reformar. A problemática a qual nos deparamos hoje é que há um interesse crescente das pessoas em se reformar mais cedo. No entanto, o que o contexto econômico e social pede é que as pessoas prolonguem a sua saída do mercado de trabalho. Analisemos, então, o que leva um indivíduo a querer ou não se reformar e o que as organizações podem fazer diante desta decisão. Nosso papel é pensar concomitantemente no bem-estar do trabalhador e na rentabilidade da organização".

Meu projeto ainda está em construção. Vim aqui contar pra vocês que sinto-me realizada com a escolha feita. Percebo que o tema é atual: é comum encontrar reportagens nos jornais sobre as reações dos trabalhadores frente às mudanças legais referentes à reforma. Observo que ainda há muito a ser investigado: as pesquisas que fiz em reconhecidas bases de dados possuem poucos artigos com o foco que eu pretendo dar. A maioria das pesquisas foca nos aposentados, eu quero investigar as expectativas daqueles que estão em transição para a reforma. Construir um projeto do 'zero' com alguém que também é novo nesta área de investigação faz com que eu me sinta mais à vontade com a minha orientadora e que tenha a consciência de que um desafio muito gratificante está à minha espera. Conversar com a Margarida sobre qualquer assunto e ver a forma como ela ensina, pesquisa, orienta apenas reforça o meu desejo (muitas vezes explícito, outras vezes, escondido) de, em breve, realizar uma formação na clínica. Acredito que a formação não irá se opor, mas apenas contribuir para as competências que tenho desenvolvido na área organizacional, a qual gosto muito também.

Por fim, estudar este tema envolve ler sobre diversas dimensões do mundo que circunscreve as pessoas que estão em transição para a aposentadoria. Estou motivada a refletir sobre as determinantes legais da aposentadoria, sobre os efeitos do envelhecimento na saúde física e mental do indivíduo, sobre a capacidade do Estado em aumentar ou não os gastos com a previdência, sobre as fases de desenvolvimento humano, sobre perdas e luto, sobre a minha entrada no mercado de trabalho, sobre... roda mundo roda gigante... o tempo passou num instante, nas voltas do meu coração... para obter uma visão holística desse campo de estudos.

- Every exit is an entrance to somewhere else - Tom Stoppard.