29 de junho de 2008

Sabiá fique por lá...


Pensar no futuro envolve relembrar o passado.
Nessa época de tantas mudanças, de conclusão de uma fase e início de outra, tenho recordado frequentemente alguns momentos inesquecíveis da minha infância.

As cantigas de ninar que as minha tia Socorro cantava pra mim me tocam até hoje e, quando aparecem na minha memória, eu sinto uma sensação boa... uma mistura de cheiro de mar com balanço de rede.

A cantiga do Sabiá era uma entre as mais cantadas por ela:

"Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho
voou voou voou voou
Juliana que gostava tanto do bichinho
chorou chorou chorou chorou
Sabiá fugiu pro terreiro
foi cantar no abacateiro
Juliana triste a chorar:
- Vem cá Sabiá, vem cá!
Sabiá responde de lá:
- Não chores que eu vou voltar".

Hoje, Juliana responde de cá: Não voltes se quer ficar.

Amar outrem é querer vê-lo feliz, independente do caminho que ele encontrou para a felicidade.

Quando eu morrer, quero que todos os meus órgãos sejam doados. E que minhas cinzas sejam jogadas sobre o mar em frente à casa azul e branca da tia Socorro (Tibau do Norte - RN).

Pensar do futuro envolve imaginar todas as situações que estão por vir.

8 de junho de 2008

Só sei que não sei o que me vem pela frente.


Eu não sei como vai ser a despedida: será que vou entrar no aeroporto chorando feito criança ou será que estarei aparentemente tranqüila, levando as poesias de Fernando Pessoa pra ler no vôo Brasília-Lisboa? Não sei onde vou morar: se vai ser num apartamento novo de uma velha senhora ou numa casa velha cheia de gente nova. Eu não sei qual vai ser minha impressão da cidade: se vou achar tudo muito diferente do que já vi ou se vou me relembrar das cidades portuguesas que conheci. Eu não sei qual vai ser o nível do mestrado: se terei que passar horas a fio, madrugadas adentro na biblioteca ou se vai dar tempo de ir até nas discotecas. Não sei se vou querer ficar em contato constante com vocês: ou se vou preferir me distanciar para me proteger e ir a procura de novas amizades, de lugares onde me sinto acolhida pra pra poder, um dia, dizer se vejo a possibilidade de construir minha morada em outro lugar que não a Pátria amada. Não sei quando venho à minha cidade natal: se virei sempre nas férias de agosto ou se vou morrer de desgosto de não poder vê-los tanto quanto gostaria.

Como vai ser chegar em casa sem ouvir minha mãe escutando blues? Como vai ser almoçar nos finais-de-semana sem a companhia do meu pai? Vou morar com chilenas e italianos ou polacas e mexicanos? Será que vou aperfeiçoar o meu português e voltar falando: "estás a falar"? Será que vou poder ligar para as minhas amigas daqui quando precisar? Será que finalmente vou aprender a gostar de pastel de Belém? E será que vou me apaixonar por alguém?

Não sei quando volto! Se venho a passeio ou pra ficar... será que vou conseguir um emprego por lá? Só sei que a hora é agora. Que eu preciso ir. E que irei aberta a novas pessoas e possibilidades...

Só sei que meu coração está contente de não saber o que me vem pela frente.


“Vou imprimir novos rumos

Ao barco agitado que foi minha vida

Fiz minhas velas ao mar, disse adeus sem chorar (mentiiiiiira! =)

E estou de partida (...)

Quero viver diferente

Que a sorte da gente

É a gente que faz"

(Novos rumos - Paulinho da Viola)


Foto: Eu na Torre de Belém (Lisboa) - vendo a vida passar...