25 de fevereiro de 2009

Não tem explicação, não tem não tem


Como solicitado, o recepcionista a acardou às 6 horas da manhã. Ao olhar pro lado, ela reparou que a cama ao lado já estava vazia. O vazio tomou conta do seu peito de tal forma que foi impulsionada a levantar da cama e partir o quanto antes. Ela podia aproveitar a manhã de domingo por lá, mas imaginou que passar sozinha pelos lugares onde esteve com a mãe nos últimos tempos seria mais doloroso que agradável. Mas ela não consegue encontrar uma explicação pra isso: a diária já estava paga e ela não tinha muitas coisas pra fazer em coimbra num domingo depois das provas. Podia aproveitar a cidade all day long. Todavia-porém-entretanto, só pensava em deixar logo aquele espaço porque eles eram muito mais bonitos nas fotos. E pegou o trem de volta pra casa às 7h.
No caminho, acompanhada pelas vozes de Elis e Maria, ela ficou ainda com mais saudade da mulher que mais ama e admira neste mundo e com que esteve ao longo de poucos e intensos dias. A viagem confirmou o que ela já sabia: a cada dia que passa, elas estão mais parecidas, o que pode ser fácil de entender, mas difícil de reconhecer. Tarefa árdua porque não apenas as qualidades, mas os defeitos dela estão ali. Por alguma razão, ter ficado um tempo longe dela e reencontrá-la a fez perceber melhor os aspectos que as tornam iguais e aqueles que as diferenciam. Por quê no dia-a-dia, morando com ela, ela não havia percebido isso de forma tão clara? E mesmo que ela encontrasse uma justificativa, o que importa e que hoje ela é capaz de perceber tudo isso...
Pela primeira vez ela sentiu que em raros-reais momentos conversaram de mulher pra mulher. Ao mesmo tempo que a ideia de chegada da mãe a fazia esperar por colo, aconhego e carinho, ela estava também à espera de demostrar que, além de filha, ela virou mulher. Não foi fácil, ao longo da viagem, querer ser a filhota que sempre gostou de ser e a juliana que cuida de si, que mora longe, que resolve problemas, que tem planos, que quer ser mãe um dia...
O balanço do trem, a voz da Elis e a certeza de que o trajeto Faro-Coimbra leva exatamente cinco horas permitiu que ela fizesse um flashback dos momentos mais importantes dos últimos anos na sua vida. Um sentimento de completude tomou conta do corpo da jovem de 23 anos que, geralmente preocupada com o que ainda está por alcançar, se deu conta de que está realizando um sonho que já habitava seus pensamentos durante cerca de 2 anos antes de se formar desde que voltou da sua primeira experiência fora do Brasil, em Montréal, no Canadá. Ela ainda não sabe se pode chamar de vício mas está adorando sua vida cheia de aventuras e não tem ideia de quando a jornada vai chegar ao fim...
Apesar da calma viagem em tom verde - que misturava as árvores do caminho com a cortina do comboio - ela lembrou da loucura que seriam os próximos dias antes de se mudar mais uma vez (se você ainda não sabe, meu bem, precisa checar os posts anteriores =) e se deu conta da quantidade de surpresas que iriam rechear o último mês dela na tranquila cidade universitária portuguesa que a acolheu muito bem nos últimos 6 meses. Coincidentemente ou não, o último mês antes da partida da sua cidade natal também havia sido repleto de acontecimentos inesperados e ela tentou encontrar uma explicação praquilo... Por quê razão não é capaz, mesmo com o tempo livre apenas para fazer as malas e se despedir se contentar apenas com isso? Por quê acaba por (re)conhecer pessoas além de se despedir das que já conhece? Por quê quer sair de casa todos os dias e fazer coisas novas e reviver hábitos antigos tudo ao mesmo tempo? Por quê no dia-a-dia é tão organizada, mas tem dificuldades de fechar as malas mesmo tendo esperado tanto por aquele momento? Aí ela ficou com sono, dormiu durante cerca de meia hora e acordou com o aviso de que o trem havia chegado em Lisboa.
Foi justamente naquela estação chamada "Oriente" que ela havia se despedido do seu pai há exatos 20 dias anteriores. E recordou o quanto chorou na despedida dele. Ela o abraçou em lágrimas e quanto entrou no trem, estavam todos a olhar pra ela com um ar de coitadinha que ela não gosta nada. Apesar da despedida do pai e da mãe terem deixado-a com o sentimento de que um buraco negro havia invadido o seu peito, ela chorou muito mais ao se despedir do pai que da mãe. Será que foi por que ele foi embora primeiro e com a mãe já estaria um pouco mais acostumada? Será por que a mãe foi embora antes dela e ela sente menos dor quando os outros a veem partir? Ela também não consegue encontrar uma razão para isso...

Também não consegue explicar porque demorou tanto pra escrever este post já que ela pegou esse trem há 1 mês e essa volta foi marcante de tal modo que ela já havia decidio escrever sobre as suas reflexões ao longo dessa viagem... Hoje, ela tem a certeza que tendo-o escrito só agora ele contém menos detalhes do que se tivesse escrito antes. Além disso, a outra rara certeza que possui é que os instantes mais inesquecíveis e intensos que viveu até agora na sua vida são completamente inexplicáveis e, muitas vezes, invisíveis.