Na sessão seguinte, decidi realizar a construção do genograma. Vamos lá: nome do pai e da mãe, idade deles, morreram ou não, causa da morte; irmãos e irmãs de Rosa, idade e como se dá o relacionamento com cada um/a deles/as; nome do pai das filhas de Rosa; idade quando se conheceram e quando se separaram; causa da separação; nome das filhas de Rosa, idade...
"- Juliana, tá faltando incluir o meu filho".
"- Filho?" – respondi assustada porque nenhum filho havia sido citado no primeiro contato.
"- É, meu filho que faleceu com 5 anos...".
Tocar no assunto "- E como foi a perda do seu filho?" nunca acontecia sem ser ao lado da caixinha de lenço de papel... Esse assunto tocava Rosa de tal forma que a deixava impossibilitada de se abrir. Impotente e impossibilitada ficava eu, jovem estagiária, que não sabia como trazer um assunto de extrema relevância para que ela compreendesse como isso impacta na relação dela com as filhas hoje e, também, para a construção do vínculo terapêutico. Mas, a terapia, como toda relação, envolve respeitar o tempo, o espaço do outro e ir trabalhando cada assunto seguindo o ritmo do cliente... é como uma dança também, temos que aprender a se deixar levar...
Nesse meio tempo, trabalhamos os demais papéis de Rosa: mulher, professora, filha, irmã, amiga, divorciada... e ainda assim não senti espaço para trabalharmos aquele temido papel: o de mãe que sofreu uma perda.
Tive que recorrer à minha supervisora de estágio e ela prontamente me disse: "- Peça a ela pra escrever".
Eu não sabia nada sobre escrita terapêutica, então, fui atrás! E descobri que um professor da Universidade
A Rosa?! Ah, depois que ela me trouxe duas páginas repletas de rabiscos, círculos manchados de tinta e muita dor, eu tenho observado o quão rico é ver as reações dela ao ouvir suas palavras por meio da minha voz. E assim, pouco a pouco, vamos mais à fundo nesse processo difícil, mas necessário, de enfrentamento da dor.
A terapia – seja ela verbal, teatral ou escrita – não é apenas para aqueles que apresentam uma demanda grave. É uma forma de auto-conhecimento.
E é por isso que eu estou aqui: para, ao escrever, me auto-conhecer.
Obs1.: Alguns dados foram alterados para preservar a identidade dela.
Foto: eu escrevendo - nesse caso, nada interessante, apenas conferindo as rifas dos formandos.
4 comentários:
E eu, o que eu faço, quando escrevo aqueles e-mails enormes falando do Chucky e sua noiva maluca?
;)
Ju, tô adorando seu blog!
E muito legal saber que existem autores que falam sobre escrita terapêutica: primeiro, pq eu escrevo muitooo; segundo, pq eu tô com um projeeto com diários de adolescentes... Vou correr atrás desse livro!
E continue escrevendo, que tá sendo terapêutico ler!rs
Bjo
Boa noite, Ju!
Acho que já sei os amigos em comum. Eu fiz estágio por 2 anos no Nups do TJDF e lá conheci o Digão, o Bill, Paulo Bacana, dentre outros da psicologia. Conhece algum deles? =}
Você falou de três formas de terapia - verbal, teatral e escrita - e me lembrei com saudades das atividades do estágio... até um psicodrama no auditório do MP a equipe de estagiários fez, sobre violência conjugal! =D
Esse comentário tá ficando maior que seu post, né? ;)
Um beijo,
Dudu
Jú, você disse que não sabia nada sobre escrita terapêutica, mas isso não foi motivo para você cruzar os braços, mas sim para buscar sobre o assunto.
Voce podia ter pensado.. ah nao sei como ajudar, mas nao.. você foi atrás!
Esse seu post mostra o quanto é importante a busca por novos aprendizados e o interesse pelas coisas. Parabéns!
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